A ARTE DO DESCANSO
Estamos em Agôsto, o mes das tréguas. O mes de parar, de descansar, de reflectir, de observar. O mes em que o tempo assume outro ritmo, se estica; rende, e não se deixa engolir pela rotina do resto do ano. O próprio clima de verão (hoje em dia, mais incerto...) nos ajuda nessa paragem, nesse convite a uma indolência permitida, nessa preguiça gostosa que não pesa na consciência. Com pena minha, tenho reparado que cada vez existe menos essa necessidade de mudança de ritmo. A mudança das férias acaba sendo uma mudança trabalhosa, cheia de eventos. São horas intermináveis em filas,balcões apinhados, pois todos resolvem mudar ao mesmo tempo e sempre para o lugar que está na “moda” o que os transporta para outro cenário sim, mas com o mesmo ambiente do resto do ano.
Descansar é uma arte que começa pela cabeça. Deve ser tão importante descansar, que Deus também o fez no sétimo dia, e ainda nos mandou “guardar os domingos e festas de guarda”. Na verdade, o trabalho nunca termina, nem o da dona de casa, nem o do operário, nem o do presidente de um banco. Há sempre algo que fica pendurado, inacabado, e o descanso fica sempre adiado. Tenho saudades de quando cidades inteiras estavam praticamente paradas no mes de Agosto, quando as férias éram totais e para todos. Agora estamos na época em que o negócio não pode parar, o mundo resolveu se “Novaiorquisar” ou seja imitar a cidade que nunca dorme. Adoro N.York e o seu ritmo frenético mas se a cidade fosse uma pessoa, creio que seria neurótica e anoréxica, não consegue descansar. Vou vos contar uma história que lí em tempos sobre um homem de negócios que não sabia parar.
“Certo dia, um homem de negócios dirigia-se ao trabalho. Quando viu um beduíno
sentado debaixo de uma palmeira da cidade, descansando e sonhando, como muita gente faz no Egipto. Parou e perguntou:
- Que faz aí?
Respondeu o beduíno:
- Como vê, estou sonhando, descansando...
-Sabe, poderia ganhar dinheiro se trabalhasse.
- E que eu faria com o dinheiro?
- Se ganhasse dinheiro, poderia abrir um escritório.
- E daí?
- Daí poderia ganhar mais dinheiro e abrir uma fábrica.
- E daí?
- Aí poderia ter uma bela casa de campo.
- Optimo! E daí?
- Ainda teria para guardar no banco.
-Sim. E daí?
- Aí poderia sentar-se e descansar.
-Mas é isso que estou fazendo nesse momento.”
Creio que existe uma estreita ligação entre o descansar e o rezar. Muitas vezes é porque não descansamos que não rezamos. Quando rezamos, nos esvaziamos para Deus, ficamos com o espírito livre, nos renovamos. É com esse novo olhar que vamos conseguir ver com o coração e amar, e aí está a essencia da sabedoria do descanso. Descansar nos traz a paz necessária para viver plenamente e amar.
O monge ortodoxo Antonio Bloom diz num dos seus textos .” Todas as actividades importantes pressupõem o esquecimento do tempo, o esquecimento do relógio”. No fundo o importante é fazer tudo sem pressa. A pressa constante é a origem do “STRESS”, que vem a ser um excesso de pressão e que segundo certos médicos é causa de muitas doenças graves. Seria um mundo ideal, se conseguíssemos aprender a viver como se estivéssemos sempre de férias, ou seja saborear a vida em vez de vê-la passar.
Thursday, August 23, 2007
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment