Friday, July 13, 2007

Entre um passo e outro...com Jimmy Rissogill




Alguns podem não gostar, mas resolví começar a entrevistar os peregrinos que se predispuserem,para começarmos a saber aos poucos quem é quem, nesse grupo eclético unido pela fé .
O nosso primeiro entrevistado é o Jimmy.
O Jimmy nasceu em Portugal, um de cinco irmãos, filho de mãe portuguesa e pai inglês. Estudou cá até aos quatorze anos. Partiu então para Inglaterra e aos quinze anos entrou para o exército de onde só saiu aos 26 anos. Foi depois fazendo a vida cá até 1977 quando foi para o estrangeiro só regressando em 1989.
É casado com Belucha (que também já foi connosco a pé) com quem tem uma filha Diana, mas considera os filhos da Belucha, que são tres, como seus também.
Cheguei para conversar com o Jimmy um pouco atrasada como boa brasileira e ele já estava a minha espera desde as seis, hora que tínhamos combinado. O Jimmy é destas pessoas que transmitem muita tranquilidade e apesar de não ser muito expansivo, é um bom conversador.

MC- Quando foi a Fátima pela primeira vez?

J- Fui pela primeira vez há nove anos, e desde aí só falhei duas vezes.

MC- Qual foi a sua motivação?

J- Na altura tinha uma amiga muito doente, e fui pedir por ela. E ela salvou-se!

MC- Quer falar de algo em especial sobre as suas primeiras caminhadas?

J- Fiquei aterrorizado com a caminhada pelas estradas e com as camionetes a passar. Comentei na altura com o Lourenço de Almeida que me disse que estava a tentar um caminho alternativo para Fátima. O projecto estava parado pois não havia verba. Então juntei-me a esse grupo de trabalho e fiquei encarregue de arranjar verba. Conseguimos arranjar e o caminho fez-se, e é utilizado por muitos peregrinos. Entretanto houve um episódio curioso. O Expresso tinha nos garantido o patrocínio, estávamos descansados. Acontece que tres semanas antes da inauguração, estava eu em reunião, falam-me do Expresso a dizer que era urgente. Fui atender a chamada na sala ao lado, e fiquei a saber que já não tínhamos verba. Baixei a cabeça para pensar no próximo passo, e reparei que a minha mão estava em cima de uma revista Readres Digest alí pousada. Achei que era um sinal, falei para o Jorge Arnoso (marido da Marina e então administrador da revista). O Jorge disse imediatamente que sim, e patrocinou-nos a revista!

MC- Sente que essas caminhadas a Fátima mudaram a sua vida?

J- Em termos práticos não, mas fizeram com que tivesse vontade de continuar a ir.

MC- Lembro-me que quando da primeira caminhada, voce me falou sobre um terço preto que voce levava. Qual era a história?

J- Era o terço do meu pai. Quando eu decidí ir não tinha terço, e este estava todo enferrujado com os anéis colados. Mas era o terço que eu tinha e então levei-o. A medida que eu caminhava, o terço foi ficando sem ferrugem...

MC-Para si o que representa Fátima?

J- Não sou um católico muito cumpridor. Nunca tive educação religiosa apesar de ter sido criado num ambiente católico. Mas o mais próximo que posso dizer, é que o facto de acreditar e ter fé foi um enorme auxílio. Ouví um padre jesuíta que descreveu bem o que sinto. “ É impossivel provar que Deus existe e também é impossivel provar que não existe.” Mas quando se está perto de Deus sente-se melhor pessoa e em Fátima sinto-me mais perto de Deus.

MC- Criou amizades especiais no grupo?

J- Sou solitário. É mais fácil estar-se só num grupo grande do que num pequeno. Cria-se um grande sentido de solidariedade e de fraternidade entre todos os que caminham. É uma grande família que está unida caminhando na mesma direcção. Este sentido de união e propósito é muito tranquilizador.

MC- O que Fátima o faz sentir?

J- Sinto mais vontade de continuar a fazer o melhor que sei para seguir os princípios da cristandade.

MC- Porquê Fátima e não outro caminho de fé?

J- Porque lá em casa houve sempre uma grande devoção a Nossa Senhora, é essa a razão.

MC-Tem necessidade de transmitir a fé que sente?

J- Acho a fé uma coisa muito privada. Acho que transmiti-la seria presunçoso da minha parte, a não ser que fosse por iniciativa de outra pessoa.

MC- Quer deixar uma mensagem, ou um recado para os peregrinos?

J- Que continuem caminhando e ponham em práctica no dia a dia os ensinamentos que se adquire nessa caminhada. E que dentro e fora da caminhada, se comportem da mesma forma. Uma vez peregrino, sempre peregrino.

Thursday, July 12, 2007

Padre Duarte Guerra Pinto

Tive o privilégio de assistir a primeira Missa à que o “nosso” Duarte presidiu! Vê-lo avançar para o altar de paramentos verdes, com aquele sorriso iluminado que a gente conhece, foi uma emoção!
Passei a Missa toda em “paralelas” isto é, por um lado prestando atenção na Missa, e por outro tentando imaginar o que o Duarte estaria sentindo.Chegou a hora da homilia, e o Duarte tirou um papel com alguns apontamentos e por alí, como se estivesse olhando para um power point ecumenico, Duarte se guiava para nos transmitir a sua mensagem.O Evangelho narrava Jesus curando o mudo, sob o olhar crítico dos fariseus. Duarte nos falou de como o olhar do coração é o mais importante, pois é através da forma como sentimos que formamos uma opinião. Tem tanta razão! Quantas vezes temos o nosso coração predisposto à crítica, fugimos do essencial e nos tornamos juizes sem dó nem piedade de pessoas que são julgadas não pelo que fazem, mas sim pela nossa opinião subjectiva.Duarte falava pausado, nos olhando entre as palavras como se para ter a certeza de que elas estavam sendo absorvidas.
A Capela do Carmelo estava cheia. As irmãs cantavam felizes! Durante a consagração, imaginava como seria sentir a emoção de transformar o pão em corpo de Cristo pela primeira vez, ser o protagonista principal desse passe de mágica que Jesus nos deixou aqui na Terra.
Sem eu querer, meu pensamento viajava durante a Missa para o caminho de Fátima aonde eu ví pela primeira vez o Duarte. Lembro-me dêle sempre discreto e alegre, com o sorriso calmo e o olhar puro. Continuei a vê-lo sempre ligado a Nossa Senhora. E sempre igual, fazendo o seu caminho calmamente. Quando ele entrou para o seminário, eu lembro-me de o ter entrevistado. Encontrei a entrevista de Junho de 2001 e passo a transcrever a minha ultima pergunta e a sua maravilhosa resposta.
MC- Tem saudades do que fazia antes de entrar para o seminário?
DGP- Não. Sem dúvida, não. Não porque não gostasse do que fazia, mas porque os motivos que me fazem estar nessa procura são de tal modo fundamentais, que está em causa não só a minha vida, na medida em que eu possa ir de encontro a um chamamento de Deus, e porisso à verdadeira felicidade; mas igualmente a missão de salvação deste mundo. É este o sentido, de todo o instante vivido como sacrificio vivo agradável a Deus sintonizado na fonte e razão de todo o ser e existir. A fé em Cristo coloca-nos na procura não do que gostei de ter, de fazer ou de querer mas, em vivência com o Seu Amor e na escuta da Sua vontade em todas as ocasiões e com tudo o que temos, procurar com Maria, modelo e educadora, no dia a dia caminhar na fé na Santíssima Trindade e assim ir, como diz João Paulo II, para além do limiar da esperança.
Depois acrescentou:
“Um bem haja deste peregrino que vos tem a todos na oração, e que o Pai, Filho e Espírito Santo vos dê por Maria a verdadeira paz e alegria dos filhos de Deus”.
Duarte
No final da Missa, o Padre Duarte Guerra Pinto tímidamente nos convidou a beijar as suas mãos que tinham sido ungidas na véspera pelo Cardeal Patriarca, mas com aquela simplicidade que lhe é característica,
Disse: “ Vou dar a benção final, para aqueles que não quiserem ficar poderem se ir embora”. Como é evidente, ninguém arredou pé, e foi um momento muito emocionante beijar aquelas mãos abertas nos oferecendo o seu amor, a sua benção, a sua graça e a sua experiencia.
Saí da Missa elevada. Passei o dia pensando no caminho de vida do Duarte, da sensação maravilhosa que é ver uma alma pura transmitindo Deus tão graciosamente, sem se impor, mas penetrando no mais profundo das nossas almas. Perante uma trajectória como a do Duarte, ficamos mesmo convencidos que o exemplo é o maior veículo de transmissão de fé que existe no mundo. O Duarte só precisa estar e consegue nos revelar a graça que é estar perto de Deus.
Que Deus o abençoe e que Nossa Senhora continue o levando pela mão nesse lindo caminho de fé que ele tem traçado.
MC

a Vida é uma passagem para a outra margem

A Vida é uma passagem para a outra margem

A Vida é uma passagem para a outra margem, é uma verdade que me tem feito reflectir ultimamente.
O facto de estar envolvida na defesa da Vida Humana, sobretudo nos seus momentos mais frágeis, princípio e fim, posicionaram-me como que observadora do que se vai passando nesta Ponte, que é o tempo e espaço que nos é dado viver enquanto aqui na Terra, e que une estas duas margens.

Se por uma lado a grande noticia da gravidez nos enche de alegria, a morte por sua vez, apresenta-se como o grande mistério, o momento escuro e para o qual nenhum homem encontrou uma explicação ou definição. Assim, neste contexto sinto-me profundamente grata porque caminho ao lado de Jesus, O único que nos dá simplesmente a certeza de que para lá desta vida mortal, há uma vida eterna cheia de Paz e Alegria. Esta vida eterna, tem no entanto o seu começo aqui, agora! Daí a ponte ter uma razão tão fundamental.

Deixando um pouco para outra altura o drama do aborto, deparamo-nos agora com o drama da eutanásia, que não é mais do que tentar convencer as pessoas de que elas já não interessam, que podem partir quando bem entenderem e que até se quiserem nós ajudamos, matando-as.

Esta realidade, já existente em alguns países da Europa, está a tentar minar Portugal. Esta falsa compaixão que não tem nada a ver com a morte natural, onde no entanto a ciência evolui no sentido de minimizar o sofrimento, tem nela contornos absolutamente aterrorizadores. Hoje há homens, não a Humanidade, que se apoderou da vida de outros homens e cria leis que ditam quem pode ou não viver. Hoje há homens que deixaram morrer a chama do amor nos seus corações e que vivendo nas trevas, se vão alimentando da vida dos mais fracos e desprotegidos, criando uma mentalidade imposta de quem é digno ou não de viver. É uma nova forma de ditadura.

E enquanto tudo isto se decide nos assentos dos parlamentos, de umas vagas discussões politicas, de acordos e grandes negócios que criam uma doente “riqueza” nos países ditos evoluídos, a vida e a morte continuam a acontecer na vida de todos nós, como momentos naturais onde a feliz ou a triste noticia, fazem parte integrante. Felizmente ainda há quem morra sossegadamente na companhia dos seus, mesmo que com sofrimento. Felizmente ainda há maridos, mulheres, filhos, pais, avós, tios, amigos, que naturalmente acompanham os seus com carinho e amor, mesmo que sem soluções milagrosas.

Hoje, dia 8 de Julho, recebi duas noticias tão diferentes à partida e tão unidas nesta dinâmica que é a Vida. Uma é a que vamos ter mais um neto na família (da Inês) e outra poucos minutos depois de que a minha madrinha tinha morrido (tia Belita). As duas noticias levaram-me ao fundo do meu coração e da minha inteligência para neles encontrar o espaço e a Paz que ambas as noticias merecem.

Tenho 50 anos e posso orgulhar-me de ser filha, mãe, esposa, avó, Irmã, tia, cunhada, sobrinha e prima. Isto leva-me a dar graças a Deus, de pertencer a uma família, lugar de excelência para nascer, crescer e morrer. Por isso nestas várias dimensões, sei que posso dar e receber, ajudar e ser ajudada, amar e ser amada e é nessa e só nessa dinâmica que acredito posso morrer um dia em Paz.

Concluo que esta Cultura de Morte é resultado de uma tentativa bem determinada de dar cabo da FAMILIA, pelo precisamos todos mesmo todos de a defender e proteger.,promovendo a propósito e a despropósito a Cultura da Vida.

Sofia Guedes
8 de Julho de 2007