Monday, September 24, 2007

O Mistério daquele Lugar


O Mistério daquele Lugar


Nuno Serras Pereira
22. 09. 2007


Num sábado à tarde do mês de Agosto pus-me a caminho da Praça da Alegria em busca da tão gratuitamente publicitada "clínica" dos Arcos. Tinham-me dito que ficava por ali perto e, de facto, subindo um pouco, como quem vai para o Príncipe Real, logo a descobri. Está sedeada num prédio novo na Rua da Mãe-de-Água. A sua parte fronteira, com a porta de entrada, dá para a intersecção de duas vias que se cruzam – a já referida e a Travessa do Rosário –, de modo que o matadouro se estende, por um lado, para a parte superior da Rua da Mãe-de-Água, que logo ali termina no Chafariz do Vinho e, por outro, pela Travessa do Rosário, fazendo traseira com um Templo da "Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica".

Em síntese: o abortadouro, calvário do nosso tempo, está situado junto a uma cruz – as duas vias formam uma cruz perfeita, alicerçada na Praça da Alegria –, na rua da Mãe-de-Água, a meio da Travessa do Rosário, nas traseiras de um Templo Evangélico.

Quando ontem à tarde ali voltei, ao descer a Avenida da Liberdade, começou por me impressionar a quantidade imensa de gente que ia e vinha tratando das suas coisas ignorantes ou indiferentes à matança que ali decorria tão perto… Chegado ao Gólgota, enquanto rezava o terço por aquelas mulheres grávidas e seus filhos que entrevia pelas vidraças transparentes da portaria, não pude deixar de meditar sobre o mistério daquele lugar.

O que primeiro salta à vista é, evidentemente, o mistério da iniquidade. Não é possível encontrar uma explicação meramente racional para uma cegueira tamanha, para uma loucura tão desumana e cruel, tão alheia do amor e da solidariedade, tão contrária à solidariedade e à justiça.

Mas logo a este mistério tremendo, providencialmente, se sobrepuja um outro Mistério que nos envolve e penetra de uma esperança contra toda a esperança. O sangue inocente, derramado pelos algozes actuais é, num certo sentido, sangue de Cristo, ali de novo e repetidamente crucificado. A Mãe-d'água e o Chafariz do Vinho, que nela se encontra, lembram o Coração trespassado de Cristo, do qual brotaram sangue e água, sinais da Eucaristia e do Baptismo; a água, sabemo-lo bem, é símbolo do Espírito Santo que tudo vivifica e purifica. A Mãe é a Virgem Maria, Esposa do Espírito Santo, e, por isso, cheia de Graça, isto é, dEle, o qual nos foi e é dado por Seu Filho Jesus.

O Rosário (isto é, o Terço) é aquela oração, feita na companhia de Nossa Senhora, eminentemente centrada em Jesus Cristo – nos mistérios da Sua vida, morte e ressurreição –, que continuamente brota do Pai, através da oração que o Salvador nos ensinou, e desemboca no Glória à Trindade, lembrando-nos as coisas últimas – o Inferno, o Purgatório e o Céu –, e ensinando-nos a confiança na intercessão da Mãe de Deus humanado.

Na Travessa do Rosário, um azulejo representa a Imaculada esmagando a cabeça do "dragão enganador" – Satanás –, na companhia de um santo Bispo ou Papa, que não consegui identificar. A Imaculada Conceição, Senhora de Lurdes, padroeira da Ordem Franciscana e Rainha de Portugal, cujos membros, tantos, tanto tempo trabalharam para que fosse reconhecida como tal, parece indicar que assim como durante séculos persistimos e perseveramos com grandes dificuldades e obstáculos no combate denodado por essa verdade, assim importa fazer de novo para que esta outra verdade da dignidade de cada ser humano desde a sua concepção seja reconhecida, respeitada, protegida, amada e promovida até à sua morte natural. A necessidade de comunhão com a Hierarquia da Igreja e o acolhimento pronto do seu Magistério, procurando diligentemente pô-lo em prática, estão representados no santo Bispo, enquanto Bispo. A importância vital de vivermos na santidade que Deus nos outorga está também significada no santo Bispo, enquanto santo, mas principalmente na Imaculada Conceição cuja fidelidade absoluta e permanência total e incondicional no Espírito de Deus, até ao fim, lhe valeu o título de Imaculado Coração de Maria.

Como ali se praticam pecados atrocíssimos logo nos lembramos de Francisco, pastorinho de Fátima, que tristíssimo pela enorme mágoa que o pecado traz a Jesus O procurava consolar, reparando com amor, e pedindo a brados de alma que O não ofendêssemos mais, pois já estava muito ofendido. Ali podemos consolar Jesus, em oração e sacrifícios de reparação. De pronto nos acode, também, Jacinta, que horrorizada pela perdição ou condenação ao Inferno de muitos pecadores, de imediato se decidiu à oração e sacrifícios instantes e prementes para que mais ninguém tivesse tal destino, mas todos pudessem arrepender-se, converter-se e salvar-se. Recordando que Nossa Senhora comunicou a Jacinta, aquando da sua estada em Lisboa por enfermidade, que a maioria dos condenados o eram por causa dos pecados sexuais, e verificando ali as suas consequências – a morte propositadamente provocada dos próprios filhos –, perceberemos melhor o alcance daquela revelação.

Depois, como não lembrar Lúcia que ficou para espalhar a mensagem e garantir o seu cumprimento, não como nós achávamos que devia ser, mas sim como Nossa Senhora pediu e Deus determinou. E como evitar meditar seriamente que o Papa João Paulo II, que de si mesmo afirmou: "Eu sou o Papa da vida e da paternidade responsável e toda a gente tem de o saber … Sim, eu cheguei à Cadeira de S. Pedro, vindo da Humanae Vitae em vista da vida humana " (Cf Padre Nuno Serras Pereira, O Triunfo da Vida , p. 260, Crucifixus, 2006), ligou explicitamente a mensagem de Fátima à defesa dos nascituros na homilia que proferiu nesse Santuário, aquando da canonização dos pastorinhos?

Mas se toda a mensagem de Fátima remete para aquele lugar, como temos vindo a verificar, então é porque o que ali acontece remete, por sua vez, para Fátima. Se Fátima tem de ser levada aos Gólgotas de hoje isso significa que o anúncio explícito e sistemático do Evangelho da vida tem de ser levado a Fátima. Fátima, torno a repetir o que tenho dito e escrito noutros lugares, tem que ser o centro da defesa e promoção da vida humana em Portugal e na Europa, em especial na sua fase inicial e terminal.

Mas o Mistério daquele lugar também se revela na colocação providencial de um templo evangélico, traseira com traseira, que nos lembra a relevância indispensável do ecumenismo. Como em outros países onde o aborto foi liberalizado parece que o Senhor nos quer indicar que o caminho mais urgente e com resultados práticos mais densos de unidade se dará na aliança das várias confissões cristãs em defesa da dignidade da pessoa humana em todas as fases da sua existência, desde a concepção até à morte natural.

A praça das alegrias levianas, vãs e mundanas conduz à ignominiosa injustiça da tortura e da morte dos mais vulneráveis, inocentes e indefesos. Mas se ali, e em outros sítios semelhantes, permanecermos, física e espiritualmente presentes, os milagres acontecerão transformando corações e salvando vidas, que já não regressarão à baixeza das diversões e jocosidades vis e insensatas da praça, mas tomando a vereda do rosário (terço) ganharão a rua da verdadeira e perfeita Alegria que os conduzirá, em via ascendente, ao Filho do Rei (Cf Lc 14, 16-24 e Mt 22, 1-14), ao verdadeiro, definitivo e eterno Príncipe Real. Onde haverá grande festa e júbilos eternos, pois o que estava perdido será encontrado e o que estava morto voltará à vida (Cf Lc 15, 32).

Thursday, September 13, 2007

OLÁ LISOBA, DAQUI PORTO


OLÁ LISBOA, DAQUI PORTO!
Mas porque raio confundimos tudo e não tratamos da alma como tratamos do corpo?
É verdade que o nosso corpo - templo do Espírito Santo - tem que ser cuidado, conservado e "guardado". Mas... Não será que às vezes exageramos ou melhor, confundimos o essencial com o supérfluo? Aconselhado - ou melhor "intimado" pelos meus filhos que temem que a minha "imagem" borre a "imagem" que eles imaginaram para mim, o José Joaquim deu-me de presente de Natal um vale "SPA SHERATON HOTEL" que me dava direito a uma manhã inteira no SPA - 5 horas...!!!, usando todos os cantos e recantos que me apetecesse, o que quer dizer entrar na piscina empoleirar-me em todas as máquinas possíveis e imagináveis, relaxar no jakuzi, transpirar no sauna, etc, rematando com uma especial limpeza de pele seguida de massagem de relaxamento - com pedras, mãos, algas e mais o que se possa pensar, e onde a imaginação do homem possa chegar. Bem, a primeira coisa que fiz foi esquecer-me e deixar caducar o prazo do dito vale, para grande indignação de todos. Mas "ele" há amigas fantásticas e uma delas, muito incomodada, lá foi conseguir uma renovação do prazo e marcou-me hora. Chegou o grande dia!!! O hall do htel é muito bonito, enorme, sendo que todas as divisões são de vidro, o que lhe dá uma luz linda, um brilho espantoso, mas que me levou a entrar e percorrê-lo todo de braços e mãos bem esticados, não vá o diabo tecê-las e dar de nariz num dos ditos. (Mas o diabo ali não "tece" nada porque está bem contente com o que lá se passa). Desci então ao "menos um" onde uma recepcionista fantasticamente bonita e bem arranjada me recebeu risonha. Mostrei o meu vale e logo a seguir apareceu outra igualmente bonita e igualmente risonha que me levou a visitar todo o SPA: a piscina - de umas dimensões incríveis, uma água transparente e clara, com plantas tropicais a apontarem ansiosas para um céu que furava por uma clarabóia enorme; o ginásio, as máquinas, etc. . "Sabe, eu queria despachar isto o mais depressa possível, por isso se pudesse já fazer a limpeza de pele e a massagem, ficava-lhe muito agradecida". O sorriso tornou-se menos radiante, e ligeiramente desdenhoso "bem, se prefere assim..." e enfiou-me numa sala redonda, toda forrada de veludo escarlate - chão, paredes e tecto - rodeada de cadeiras e de camas enormes, essas todas em cor de laranja, o que provocou no meu coração um peso. "A sua assistente já a virá buscar". Por ali fiquei, agarrada ao terço porque entretanto eram 11h30, a minha hora da cadeia de terços da tia Gena. Por toda a parte folhetos apetitosos em cima de mesinhas colocadas estrategicamente, espreitavam-me tentadores com listas dos tratamentos que ali poderia fazer… para ficar mais bonita… mais nova… mais magra…, …, … Outra menina - bonita e escultural como as outras, apareceu toda sorrisos a tentar convencer-me em que me ía fazer muito bem dar um saltinho ao jakuzi antes da limpeza de pele. Aí afinei e disse-lhe que o vale era meu e o podia usar como quisesse... "Não sei se sabe o preço desse vale e parece-me uma grande pena desperdiçar assim tanto dinheiro..." "é... também me parece que tudo isto é um grande desperdício... de dinheiro e de outras coisas...". O dinheiro… sempre o dinheiro… Finalmente veio então mais uma menina – esta com um aspecto mais profissional, isto é, menos enfeitada e menos tentadora – que me convidou para uma sala das mil e uma noites: "É para fazer o favor de se despir, guardar a sua roupinha num destes cacifos, e pôr este roupãozinho, estes chinelinhos e estas cuequinhas". Desconfiada olhei à volta. Desde miúda que nunca suportei ter que me despir em ginásios em frente de outras raparigas ou mulheres, nunca percebi se por pudor ou por sofrer de psoríase desde bebé, o que me fazia uma vergonha e uma humilhação terríveis. Mas havia divisões individuais para o efeito. Mais sossegada obedeci e ao sair,lá estava ela pronta a "deitar-me a mão”. Numa pequena divisão deitei-me numa cama que começou logo a mexer ajustando-se "à minha medida" enquanto a menina me dava a cheirar os vários cremes possíveis “para o meu caso especial”, tal prova de vinhos no melhor restaurante do mundo. A música oriental era repetitiva e começou a enervar-me "não se importa de desligar a música? É que queria rezar o terço e assim não consigo" “O terço...?" "sim, o terço...". A tal massagem era de facto deliciosa, todos os músculos foram trabalhados com suavidade e sabedoria, enquanto uma pasta fresca me abria os poros da cara para preparar a pele para a limpeza. Ave-Maria... Santa-Maria... Maravilha de terço. Os passos da menina não se ouviam porque tudo ali é almofadado, forrado, atenuado... para ninguém ouvir ninguém... para ninguém saber de ninguém... Era dia de Mistérios Gozosos. Tive "espaço" para meditar com tempo os "mistérios" da vida do Senhor, os "mistérios" da minha, da nossa vida... O que faria Maria àquela hora? É… àquela hora estaria a dar um SIM enorme ao seu Senhor Deus... Comecei a explicar à menina a alegria que me ía na alma por aquele SIM tão espantoso, tão incrível, tão decisivo na vida dela, na minha, na do mundo... "A senhora é engraçada, nunca tratei ninguém assim...". Lembrei-me do que ouvi a um bispo belga que conheci em Fátima num retiro, que viveu muitos anos no deserto junto com nativos e beduínos, e que mantinha um silêncio impressionante - de voz, de olhar, de gestos, de postura... até o corpo era silencioso... "quem rezar o terço com tempo - sem pressas, quem meditar cada mistério demoradamente - tem o Céu garantido”. Desde aí que tento dar um lugar muito especial ao terço e vou mudando a meditação dos Mistérios para não cair na rotina. …Mas a suavidade começava a transformar-se em violência…! A cara era agora espremida por todos os lados para saírem os pontos negros. “Ai… ai…” “Oh, desculpe, mas realmente a senhora não tem o hábito de limpar a pele….” E zás lá vinha mais um beliscão para espremer e arrancar entre as unhas mais outro ponto negro…! Ave Maria… Santa Maria…Mas assim não dava. Finalmente deu por finda a sessão e pôz-me em toda a cara e corpo uma máscara que cheirava a rosmaninho e dando-me uma palmadinha disse que ficasse em repouso, que viria dentro de 15 minutos. Uff, iria “ter alta”. Nesse tempo, muita coisa me veio à cabeça, muitos pensamentos, muitas pessoas, muitas realidades, muitas injustiças, muitas vaidades, muita pobreza, muita riqueza, …, …, … . Mas o que mais impressão me fez foi perceber que se eu deixar que Jesus me faça este tratamento ao coração e à alma… se cada um de nós deixar que Jesus venha espremer todos os pontos negros da nossa alma e arrancá-los um a um, vai doer muito, claro! Se deixarmos que Ele venha massajar o nosso coração, se O deixarmos desdobrar e tocar em tudo o que está escondido desde há anos dentro de cada ruga, vai custar muito, claro! Mas o resultado final ver-se-á no nosso rosto e na luz do nosso olhar: poderemos transformar o mundo! A que ponto chegámos, Senhor, para confundirmos o essencial do supérfluo desta miserável maneira? Será que temos a consciência de que cada hora de tratamentos destes podem tirar a fome, salvar a vida de muita gente? Saltei da cama antes do tempo, chamei pela menina, agradeci-lhe e puz-me ao fresco, envergonhada por estar nestes preparos e ser peregrina de Maria a Fátima a pé! Será que Nossa Senhora me viu nessa manhã? O que teria pensado? Mas porque raio confundimos tudo e não tratamos da alma como tratamos do corpo???
Teresa Brito e Cunha Olazabal

Sunday, September 9, 2007

CARIDADE, A VIRTUDE DO AMOR (Sofia Guedes)






"1. Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
2. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todo
s os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada.
3. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!
4. A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante.
5. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor.
6. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.
7. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8. A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará.
9. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita.
10. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá.
11. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança.
12. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido.
13. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade".
(1Cor 13)

Caridade – a Virtude do Amor

Depois de umas férias excelentes, com todos os temperos para que soubessem a férias verdadeiras, voltei a “casa” e à vida que o lugar e o tempo me propõem.
Cheguei e tinha nem mais nem menos que a minha irmã Ana internada no Hospital, com um grave problema de ossos e o meu pai numa Residência de velhinhos, onde a cada dia que passa podemos reconhecer os traços das suas vidas agora cansadas e como que a prepararem-se para o dia que o Senhor os há-de chamar.
Ao mesmo tempo, no esplendor da vida, mas com as dificuldades e desafios dos dias, a minha filha mais velha a precisar da minha ajuda para lhe ficar com a minha neta e assim ela poder organizar um pouco da sua vida.
Tudo isto acrescenta à minha própria vida de família, com o meu marido, e a minha filha mais nova de 11 anos ainda em férias (quase a acabarem) a pedir para brincar em casa com amigas, pedir para passear com ela de bicicleta, pedir a minha companhia.
Devo dizer que nunca , mas mesmo nunca me tinha encontrado numa situação semelhante. Em 50 anos, sempre tudo me correu conforme eu gostava, como se fosse eu a comandar o tempo e os acontecimentos. É verdade que nos últimos 25 anos aprendi com Jesus, que a nossa vida só tem valor quando nos esquecemos de nós e olhamos para os outros. Eu tentei seguir este caminho, e como não tinha directamente nenhum drama ou dificuldade, dediquei algum do meu tempo aos outros ora visitando doentes, ora organizando eventos como o Presépio na Cidade, a Caminhada pela Vida, etc. Tudo isso fiz com muito empenho e coração. Tudo isso fiz no exercício da minha Liberdade e com um enorme amor a Cristo, mas tudo isso era-me sempre distante porque era por opção, escolhido por mim. Curiosa a maneira como Deus nos trabalha?!!?...
Acontece que tudo mudou e todas essas experiências prepararam-me, educaram-me , para eu reconhecer que desde há um mês para cá, a barreira que dividia o sofrimento que eu reconhecia e via, mas sem nunca o tocar, fosse agora retirada e toda a nova realidade, me fosse dada de graça. E quando digo graça, é mesmo Graça!
O que tenho aprendido, os medos que afinal existem mas são possíveis de ultrapassar, são também os meus. Faço parte desse “filme” que é a vida e onde o sofrimento, a doença, a aproximação da morte me dizem e me falam muito intimamente.
Sem me arrastar demasiado, não posso deixar de escrever e de me admirar com o que Deus fez em mim, através de toda a minha vida:” Maravilhas!”
Hoje quando visito a Ana e o meu pai, venho com uma imensa Paz. Visito-os sem olhar o relógio, visito-os para lhes tocar, dar mão, olhar fundo nos seus olhos e estar… à Ana leio poesia que nunca tinha lido antes. E como é Bela! Ao meu pai, dou-lhe a mão, encho-o de festinhas e digo vezes sem conta ,como gosto dele.
A Ana espera pelas melhoras, reza e pede-me que reze para que a coragem e a inteligência a ajudem nos dias que ainda tem que sofrer. O meu pai, tranquilo, mas cada dia mais longe, diz-me que está pronto para partir, sem medo. Diz-me que se sente preparado para morrer e que embora sabendo que o amamos muito e ele a nós, está cansado e gostava de descansar “Lá”, já que se confessou e sente-se leve e pronto para a “viagem”.
Entretanto e não sei como isto acontece, consigo passear a minha neta, e dar a volta de bicicleta com a minha filha mais nova.
É um mistério este o da vida!!??
E esse mistério tem um nome: AMOR
Ousei escrever sobre o Amor, porque o sinto profundamente e porque na Residência onde está o meu pai, uma senhora linda já de muita idade e com problemas motores, me disse a propósito desta relação de filhos e pais, e netos e avós: “Sabe? Na nossa idade, este amor que sentimos em nós e em vocês, é transcendente! Este Amor, é tudo o que nos resta e é tão bom!” Então descobri que esta senhora me tinha dado a resposta ao mostrar-me como eu própria fazia parte deste Amor, que é como diz S. Paulo sobre a Caridade na sua carta aos Coríntios.

Sofia Guedes
Set. 07

IGNORANCIA E RELATIVISMO MORAL


Ignorância e relativismo moral, inimigos do ecumenismoIniciam os trabalhos da III Assembléia Ecumênica Européia de SibiuSIBIU, sexta-feira, 7 de setembro de 2007 (ZENIT.org).- O cardeal Peter Erdo, presidente do Conselho de Conferências Episcopais da Europa (CCEE), exortou os participantes na III Assembléia Ecumênica Européia (EEA3), que acontece em Sibiu, Romênia, a dar a conhecer o cristianismo em sua verdadeira essência e a combater o atual relativismo moral entre os cristãos das diversas confissões.Durante o discurso de abertura, em 5 de setembro, o cardeal Erdo, presidente de um dos dois organismos eclesiais promotores do evento, disse que «a primeira tarefa que temos também aqui em Sibiu é aprofundar e viver o cristianismo».«Com freqüência, constatamos com dor até que ponto o cristianismo é hoje pouco conhecido na Europa em sua verdadeira essência – declarou –. Circulam muitas máscaras do cristianismo, com freqüência conscientemente falsas».«Creio que o primeiro grande obstáculo ao ecumenismo é a ignorância sobre o cristianismo e a superficialidade da vida cristã», acrescentou, sublinhando a urgência de «que o caminho ecumênico seja um espaço de aprofundamento espiritual e teológico».O purpurado afirmou também, como ulterior tarefa ecumênica urgente, «a de confrontar-nos juntos com a modernidade e a secularização. As comunidades cristãs do Leste e do Oeste têm experiências diversas. Temos algo a aprender uns dos outros».Destacou o «subjetivismo» que se vive atualmente, em um momento no qual é «importante sublinhar o sentido e o valor objetivo de muitas coisas e comportamentos humanos» e «mostrar juntos que o Evangelho é capaz de dialogar com cada cultura e tem a força de enriquecer toda cultura».No mesmo dia, o metropolita Kirill, de Smolensk e Kaliningrado, presidente do Departamento para as Relações Exteriores do Patriarcado ortodoxo de Moscou, falou de uma falta de homogeneidade entre as diversas confissões cristãs acerca da concepção do homem e das normas morais que devem guiá-lo.Constatando que «algumas comunidades cristãs revisaram unilateralmente ou estão revisando as normas de vida definidas pela palavra de Deus», o metropolita perguntou: «Por que está acontecendo justo hoje, nos inícios do século XXI? Por que alguns círculos cristãos chegaram a favorecer tanto a idéia de normas morais em evolução?».Neste sentido, afirmou que «há uma coincidência suspeita entre a nova postura ante a moralidade nos círculos cristãos e a difusão do paradigma pós-moderno na sociedade secular. O pós-modernismo, em sentido amplo, implica uma compatibilidade de visões e posições incompatíveis».«Talvez esta postura esteja justificada em algumas esferas da sociedade, mas não pode ser justificada pelos cristãos no reino da moralidade. Os crentes não podem reconhecer ao mesmo tempo o valor da vida e o direito à morte, o valor da família e a validade das relações entre pessoas do mesmo sexo, a defesa dos direitos das crianças e a deliberada destruição de embriões humanos com fins médicos», sublinhou.O metropolita Kirill insistiu na necessidade de os cristãos defenderem «as normas éticas» comuns e buscar aliados em outras religiões que comportam posturas morais semelhantes.Desta forma, sugeriu que os cristãos podem também encontrar apoio em «pessoas leigas que têm uma visão não religiosa mas apóiam normas morais similares às cristãs».Para alcançar este objetivo, o metropolita disse que as comunidades cristãs deveriam trabalhar com a opinião pública e manter um diálogo com as estruturas nacionais e internacionais.

Thursday, August 23, 2007


A ARTE DO DESCANSO por Candida C.Sá

A ARTE DO DESCANSO

Estamos em Agôsto, o mes das tréguas. O mes de parar, de descansar, de reflectir, de observar. O mes em que o tempo assume outro ritmo, se estica; rende, e não se deixa engolir pela rotina do resto do ano. O próprio clima de verão (hoje em dia, mais incerto...) nos ajuda nessa paragem, nesse convite a uma indolência permitida, nessa preguiça gostosa que não pesa na consciência. Com pena minha, tenho reparado que cada vez existe menos essa necessidade de mudança de ritmo. A mudança das férias acaba sendo uma mudança trabalhosa, cheia de eventos. São horas intermináveis em filas,balcões apinhados, pois todos resolvem mudar ao mesmo tempo e sempre para o lugar que está na “moda” o que os transporta para outro cenário sim, mas com o mesmo ambiente do resto do ano.
Descansar é uma arte que começa pela cabeça. Deve ser tão importante descansar, que Deus também o fez no sétimo dia, e ainda nos mandou “guardar os domingos e festas de guarda”. Na verdade, o trabalho nunca termina, nem o da dona de casa, nem o do operário, nem o do presidente de um banco. Há sempre algo que fica pendurado, inacabado, e o descanso fica sempre adiado. Tenho saudades de quando cidades inteiras estavam praticamente paradas no mes de Agosto, quando as férias éram totais e para todos. Agora estamos na época em que o negócio não pode parar, o mundo resolveu se “Novaiorquisar” ou seja imitar a cidade que nunca dorme. Adoro N.York e o seu ritmo frenético mas se a cidade fosse uma pessoa, creio que seria neurótica e anoréxica, não consegue descansar. Vou vos contar uma história que lí em tempos sobre um homem de negócios que não sabia parar.
“Certo dia, um homem de negócios dirigia-se ao trabalho. Quando viu um beduíno
sentado debaixo de uma palmeira da cidade, descansando e sonhando, como muita gente faz no Egipto. Parou e perguntou:
- Que faz aí?
Respondeu o beduíno:
- Como vê, estou sonhando, descansando...
-Sabe, poderia ganhar dinheiro se trabalhasse.
- E que eu faria com o dinheiro?
- Se ganhasse dinheiro, poderia abrir um escritório.
- E daí?
- Daí poderia ganhar mais dinheiro e abrir uma fábrica.
- E daí?
- Aí poderia ter uma bela casa de campo.
- Optimo! E daí?
- Ainda teria para guardar no banco.
-Sim. E daí?
- Aí poderia sentar-se e descansar.
-Mas é isso que estou fazendo nesse momento.”
Creio que existe uma estreita ligação entre o descansar e o rezar. Muitas vezes é porque não descansamos que não rezamos. Quando rezamos, nos esvaziamos para Deus, ficamos com o espírito livre, nos renovamos. É com esse novo olhar que vamos conseguir ver com o coração e amar, e aí está a essencia da sabedoria do descanso. Descansar nos traz a paz necessária para viver plenamente e amar.
O monge ortodoxo Antonio Bloom diz num dos seus textos .” Todas as actividades importantes pressupõem o esquecimento do tempo, o esquecimento do relógio”. No fundo o importante é fazer tudo sem pressa. A pressa constante é a origem do “STRESS”, que vem a ser um excesso de pressão e que segundo certos médicos é causa de muitas doenças graves. Seria um mundo ideal, se conseguíssemos aprender a viver como se estivéssemos sempre de férias, ou seja saborear a vida em vez de vê-la passar.

Friday, July 13, 2007

Entre um passo e outro...com Jimmy Rissogill




Alguns podem não gostar, mas resolví começar a entrevistar os peregrinos que se predispuserem,para começarmos a saber aos poucos quem é quem, nesse grupo eclético unido pela fé .
O nosso primeiro entrevistado é o Jimmy.
O Jimmy nasceu em Portugal, um de cinco irmãos, filho de mãe portuguesa e pai inglês. Estudou cá até aos quatorze anos. Partiu então para Inglaterra e aos quinze anos entrou para o exército de onde só saiu aos 26 anos. Foi depois fazendo a vida cá até 1977 quando foi para o estrangeiro só regressando em 1989.
É casado com Belucha (que também já foi connosco a pé) com quem tem uma filha Diana, mas considera os filhos da Belucha, que são tres, como seus também.
Cheguei para conversar com o Jimmy um pouco atrasada como boa brasileira e ele já estava a minha espera desde as seis, hora que tínhamos combinado. O Jimmy é destas pessoas que transmitem muita tranquilidade e apesar de não ser muito expansivo, é um bom conversador.

MC- Quando foi a Fátima pela primeira vez?

J- Fui pela primeira vez há nove anos, e desde aí só falhei duas vezes.

MC- Qual foi a sua motivação?

J- Na altura tinha uma amiga muito doente, e fui pedir por ela. E ela salvou-se!

MC- Quer falar de algo em especial sobre as suas primeiras caminhadas?

J- Fiquei aterrorizado com a caminhada pelas estradas e com as camionetes a passar. Comentei na altura com o Lourenço de Almeida que me disse que estava a tentar um caminho alternativo para Fátima. O projecto estava parado pois não havia verba. Então juntei-me a esse grupo de trabalho e fiquei encarregue de arranjar verba. Conseguimos arranjar e o caminho fez-se, e é utilizado por muitos peregrinos. Entretanto houve um episódio curioso. O Expresso tinha nos garantido o patrocínio, estávamos descansados. Acontece que tres semanas antes da inauguração, estava eu em reunião, falam-me do Expresso a dizer que era urgente. Fui atender a chamada na sala ao lado, e fiquei a saber que já não tínhamos verba. Baixei a cabeça para pensar no próximo passo, e reparei que a minha mão estava em cima de uma revista Readres Digest alí pousada. Achei que era um sinal, falei para o Jorge Arnoso (marido da Marina e então administrador da revista). O Jorge disse imediatamente que sim, e patrocinou-nos a revista!

MC- Sente que essas caminhadas a Fátima mudaram a sua vida?

J- Em termos práticos não, mas fizeram com que tivesse vontade de continuar a ir.

MC- Lembro-me que quando da primeira caminhada, voce me falou sobre um terço preto que voce levava. Qual era a história?

J- Era o terço do meu pai. Quando eu decidí ir não tinha terço, e este estava todo enferrujado com os anéis colados. Mas era o terço que eu tinha e então levei-o. A medida que eu caminhava, o terço foi ficando sem ferrugem...

MC-Para si o que representa Fátima?

J- Não sou um católico muito cumpridor. Nunca tive educação religiosa apesar de ter sido criado num ambiente católico. Mas o mais próximo que posso dizer, é que o facto de acreditar e ter fé foi um enorme auxílio. Ouví um padre jesuíta que descreveu bem o que sinto. “ É impossivel provar que Deus existe e também é impossivel provar que não existe.” Mas quando se está perto de Deus sente-se melhor pessoa e em Fátima sinto-me mais perto de Deus.

MC- Criou amizades especiais no grupo?

J- Sou solitário. É mais fácil estar-se só num grupo grande do que num pequeno. Cria-se um grande sentido de solidariedade e de fraternidade entre todos os que caminham. É uma grande família que está unida caminhando na mesma direcção. Este sentido de união e propósito é muito tranquilizador.

MC- O que Fátima o faz sentir?

J- Sinto mais vontade de continuar a fazer o melhor que sei para seguir os princípios da cristandade.

MC- Porquê Fátima e não outro caminho de fé?

J- Porque lá em casa houve sempre uma grande devoção a Nossa Senhora, é essa a razão.

MC-Tem necessidade de transmitir a fé que sente?

J- Acho a fé uma coisa muito privada. Acho que transmiti-la seria presunçoso da minha parte, a não ser que fosse por iniciativa de outra pessoa.

MC- Quer deixar uma mensagem, ou um recado para os peregrinos?

J- Que continuem caminhando e ponham em práctica no dia a dia os ensinamentos que se adquire nessa caminhada. E que dentro e fora da caminhada, se comportem da mesma forma. Uma vez peregrino, sempre peregrino.

Thursday, July 12, 2007

Padre Duarte Guerra Pinto

Tive o privilégio de assistir a primeira Missa à que o “nosso” Duarte presidiu! Vê-lo avançar para o altar de paramentos verdes, com aquele sorriso iluminado que a gente conhece, foi uma emoção!
Passei a Missa toda em “paralelas” isto é, por um lado prestando atenção na Missa, e por outro tentando imaginar o que o Duarte estaria sentindo.Chegou a hora da homilia, e o Duarte tirou um papel com alguns apontamentos e por alí, como se estivesse olhando para um power point ecumenico, Duarte se guiava para nos transmitir a sua mensagem.O Evangelho narrava Jesus curando o mudo, sob o olhar crítico dos fariseus. Duarte nos falou de como o olhar do coração é o mais importante, pois é através da forma como sentimos que formamos uma opinião. Tem tanta razão! Quantas vezes temos o nosso coração predisposto à crítica, fugimos do essencial e nos tornamos juizes sem dó nem piedade de pessoas que são julgadas não pelo que fazem, mas sim pela nossa opinião subjectiva.Duarte falava pausado, nos olhando entre as palavras como se para ter a certeza de que elas estavam sendo absorvidas.
A Capela do Carmelo estava cheia. As irmãs cantavam felizes! Durante a consagração, imaginava como seria sentir a emoção de transformar o pão em corpo de Cristo pela primeira vez, ser o protagonista principal desse passe de mágica que Jesus nos deixou aqui na Terra.
Sem eu querer, meu pensamento viajava durante a Missa para o caminho de Fátima aonde eu ví pela primeira vez o Duarte. Lembro-me dêle sempre discreto e alegre, com o sorriso calmo e o olhar puro. Continuei a vê-lo sempre ligado a Nossa Senhora. E sempre igual, fazendo o seu caminho calmamente. Quando ele entrou para o seminário, eu lembro-me de o ter entrevistado. Encontrei a entrevista de Junho de 2001 e passo a transcrever a minha ultima pergunta e a sua maravilhosa resposta.
MC- Tem saudades do que fazia antes de entrar para o seminário?
DGP- Não. Sem dúvida, não. Não porque não gostasse do que fazia, mas porque os motivos que me fazem estar nessa procura são de tal modo fundamentais, que está em causa não só a minha vida, na medida em que eu possa ir de encontro a um chamamento de Deus, e porisso à verdadeira felicidade; mas igualmente a missão de salvação deste mundo. É este o sentido, de todo o instante vivido como sacrificio vivo agradável a Deus sintonizado na fonte e razão de todo o ser e existir. A fé em Cristo coloca-nos na procura não do que gostei de ter, de fazer ou de querer mas, em vivência com o Seu Amor e na escuta da Sua vontade em todas as ocasiões e com tudo o que temos, procurar com Maria, modelo e educadora, no dia a dia caminhar na fé na Santíssima Trindade e assim ir, como diz João Paulo II, para além do limiar da esperança.
Depois acrescentou:
“Um bem haja deste peregrino que vos tem a todos na oração, e que o Pai, Filho e Espírito Santo vos dê por Maria a verdadeira paz e alegria dos filhos de Deus”.
Duarte
No final da Missa, o Padre Duarte Guerra Pinto tímidamente nos convidou a beijar as suas mãos que tinham sido ungidas na véspera pelo Cardeal Patriarca, mas com aquela simplicidade que lhe é característica,
Disse: “ Vou dar a benção final, para aqueles que não quiserem ficar poderem se ir embora”. Como é evidente, ninguém arredou pé, e foi um momento muito emocionante beijar aquelas mãos abertas nos oferecendo o seu amor, a sua benção, a sua graça e a sua experiencia.
Saí da Missa elevada. Passei o dia pensando no caminho de vida do Duarte, da sensação maravilhosa que é ver uma alma pura transmitindo Deus tão graciosamente, sem se impor, mas penetrando no mais profundo das nossas almas. Perante uma trajectória como a do Duarte, ficamos mesmo convencidos que o exemplo é o maior veículo de transmissão de fé que existe no mundo. O Duarte só precisa estar e consegue nos revelar a graça que é estar perto de Deus.
Que Deus o abençoe e que Nossa Senhora continue o levando pela mão nesse lindo caminho de fé que ele tem traçado.
MC

a Vida é uma passagem para a outra margem

A Vida é uma passagem para a outra margem

A Vida é uma passagem para a outra margem, é uma verdade que me tem feito reflectir ultimamente.
O facto de estar envolvida na defesa da Vida Humana, sobretudo nos seus momentos mais frágeis, princípio e fim, posicionaram-me como que observadora do que se vai passando nesta Ponte, que é o tempo e espaço que nos é dado viver enquanto aqui na Terra, e que une estas duas margens.

Se por uma lado a grande noticia da gravidez nos enche de alegria, a morte por sua vez, apresenta-se como o grande mistério, o momento escuro e para o qual nenhum homem encontrou uma explicação ou definição. Assim, neste contexto sinto-me profundamente grata porque caminho ao lado de Jesus, O único que nos dá simplesmente a certeza de que para lá desta vida mortal, há uma vida eterna cheia de Paz e Alegria. Esta vida eterna, tem no entanto o seu começo aqui, agora! Daí a ponte ter uma razão tão fundamental.

Deixando um pouco para outra altura o drama do aborto, deparamo-nos agora com o drama da eutanásia, que não é mais do que tentar convencer as pessoas de que elas já não interessam, que podem partir quando bem entenderem e que até se quiserem nós ajudamos, matando-as.

Esta realidade, já existente em alguns países da Europa, está a tentar minar Portugal. Esta falsa compaixão que não tem nada a ver com a morte natural, onde no entanto a ciência evolui no sentido de minimizar o sofrimento, tem nela contornos absolutamente aterrorizadores. Hoje há homens, não a Humanidade, que se apoderou da vida de outros homens e cria leis que ditam quem pode ou não viver. Hoje há homens que deixaram morrer a chama do amor nos seus corações e que vivendo nas trevas, se vão alimentando da vida dos mais fracos e desprotegidos, criando uma mentalidade imposta de quem é digno ou não de viver. É uma nova forma de ditadura.

E enquanto tudo isto se decide nos assentos dos parlamentos, de umas vagas discussões politicas, de acordos e grandes negócios que criam uma doente “riqueza” nos países ditos evoluídos, a vida e a morte continuam a acontecer na vida de todos nós, como momentos naturais onde a feliz ou a triste noticia, fazem parte integrante. Felizmente ainda há quem morra sossegadamente na companhia dos seus, mesmo que com sofrimento. Felizmente ainda há maridos, mulheres, filhos, pais, avós, tios, amigos, que naturalmente acompanham os seus com carinho e amor, mesmo que sem soluções milagrosas.

Hoje, dia 8 de Julho, recebi duas noticias tão diferentes à partida e tão unidas nesta dinâmica que é a Vida. Uma é a que vamos ter mais um neto na família (da Inês) e outra poucos minutos depois de que a minha madrinha tinha morrido (tia Belita). As duas noticias levaram-me ao fundo do meu coração e da minha inteligência para neles encontrar o espaço e a Paz que ambas as noticias merecem.

Tenho 50 anos e posso orgulhar-me de ser filha, mãe, esposa, avó, Irmã, tia, cunhada, sobrinha e prima. Isto leva-me a dar graças a Deus, de pertencer a uma família, lugar de excelência para nascer, crescer e morrer. Por isso nestas várias dimensões, sei que posso dar e receber, ajudar e ser ajudada, amar e ser amada e é nessa e só nessa dinâmica que acredito posso morrer um dia em Paz.

Concluo que esta Cultura de Morte é resultado de uma tentativa bem determinada de dar cabo da FAMILIA, pelo precisamos todos mesmo todos de a defender e proteger.,promovendo a propósito e a despropósito a Cultura da Vida.

Sofia Guedes
8 de Julho de 2007



Thursday, June 7, 2007

Corpo de Deus



Sofia Guedes

Hoje dia do Corpo de Deus, tive a oportunidade de peregrinar com Jesus no meio de nós pelas ruas de Lisboa. Milhares e milhares de peregrinos, seguiam sem pressa atrás do Senhor Jesus, que nos ia falando, através de alguns priores da nossa cidade e que em alta voz, em altifalantes se faziam ouvir, provocando um silêncio nas ruas à medida que passávamos e que me impressionou profundamente. Como é que milhares e milhares de pessoas conseguem sem ninguém lhes pedir fazer um silêncio que permitiu uma experiência de Paz, nunca, mas mesmo nunca sentida na vida urbana do dia a dia. Essa Paz, deixou-nos espantados e capazes de reparar na Luz que iluminava o rosto de cada pessoa, de cada vida que alinhou nesta peregrinação ou simplesmente parou para a ver passar.
Um respeito que misteriosamente sentimos.
A Presença nunca imposta, mas que dominou aquelas ruas e aquele espaço de tempo. Os cânticos em uníssono, conseguiram uma harmonia que individualmente parecia impossível conseguir-se .
Falou-se de Amor, do Amor. Falou-se do Corpo e Sangue de Jesus, e perguntou-se à multidão e a cada um de nós, se acreditamos realmente que naquele pedaço de Pão, está Deus, Deus vivo! E o Silêncio sempre a responder na sua Sabedoria. Rezou-se pelos pobres, os desempregados, os tristes, os ricos, os que não acreditam pelos responsáveis das Nações, por Lisboa e sobretudo pelo Homem . Foi nos pedido como aos Apóstolos, para sermos nós a dar de “comer” aos famintos (de Deus) de hoje.
Finalmente e mesmo antes da Bênção do Santíssimo, o Sr. Patriarca falou na nossa missão para o Amor, pediu-nos coragem para enfrentar os desafios deste tempo. Disse-nos e repetiu-nos aquelas palavras de Jesus: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida
eterna; e eu o ressuscitarei no último dia". (Jo 6,54";” Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede". (Jo 6,35); "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele". (Jo 6,56).

Impressionante! Como este Jesus, tão simples e tão Forte, é o Audaz, aquele que nunca desite do Homem. Como Ele nos ama!!! Sem medo porque com Ele temos tudo para ser felizes!

Tuesday, June 5, 2007

Ser exemplo de Cristo no dia-a-dia

Por intermédio da Maria do Rosário Líbano Monteiro, recebi este mail do nosso querido Padre Hugo, que tanto nos animou na nossa Peregrinação. O Padre Hugo chamou-nos a atenção para a Homilia do Senhor Patriarca no Domingo da Santíssima Trindade, no passado dia 3 de Junho. Tomo a liberdade de deixar aqui as ideias centrais da reflexão tão gentilmente recolhidas pelo nosso Amigo.

Francisco Mota Ferreira

"A Igreja, (...), como Corpo de Cristo e sacramento de salvação, está na sociedade como fermento do Reino de Deus , na medida em que, na sociedade, devido à presença dos cristãos, a cultura que inspira os comportamentos e o relacionamento mútuo entre as pessoas e as instituições se aproximam do amor, pela prática da justiça."

"Esta missão é responsabilidade de todos os membros da Igreja, mas é-o, de forma peculiar, dos cristãos leigos que vivem inseridos na sociedade, partilhando a mesma vida de todos os homens.(...) Eles são chamados por Deus, e a sua missão é imprimir na ordem temporal a verdade do Evangelho, influindo na cultura, seguindo os valores éticos que levam à justiça e ao amor, fazendo crescer a sociedade como uma comunidade onde a dignidade da pessoa humana seja respeitada."

"A fé cristã não é uma fuga do mundo, mas uma missão para transformar o mundo a partir de dentro , da sua própria realidade."

"Esta missão dos cristãos no meio do mundo é exigente. Supõe, antes de mais, a fidelidade a Jesus Cristo, uma vocação de santidade, a viver em Igreja. Por outro lado, entre os critérios do mundo e os do Evangelho, há contrastes que provocam sofrimento e exigem coragem. Podem cair na tentação de deixar o mundo em paz, com os seus critérios e reservar a expressão da sua fé para a intimidade(...)."

"Perante esta evolução da sociedade não basta lastimar-se e denunciar; é preciso agir, numa coerência evangélica, em todos os campos onde os cristãos estão inseridos: a família, a política e administração, a vida económica, a vida social. Escrevem-me, como se bastasse uma palavra minha ou de todos os Bispos em conjunto para mudar o rumo da evolução. Não é assim: a grande força da Igreja na sociedade é constituída pela coerência evangélica dos cristãos que vivem no mundo, no seio da Cidade."

Sunday, May 27, 2007

Sociedade sem valores, um povo que adormece

Sociedade sem valores, um povo que adormece
D. António Marcelino

.A mãe mata o filho que traz no seu seio e o Estado ajuda? É uma mulher livre.A mãe entrega o filho que não pode criar a alguém que o acolhe com amor e desvelo? É uma mulher desnaturada. Pode-se matar, mas não dar…Põem-se todos os dias, em grande plano, frente aos olhos das crianças, todas as porcarias e até a venda de bebés, como aconteceu, recentemente, numa telenovela portuguesa? Estamos numa sociedade livre.

Descobre-se na Internet uma rede propagandeada de venda de crianças, a nível europeu e que também actua em Portugal? Logo os grandes do direito vêm a terreiro e ameaçam com os castigos da justiça, e as vestes dos bem pensantes rasgam-se a proclamar que “Isto não é possível!”Há autarcas a criar programas locais para favorecer a natalidade e fixar os casais jovens nas suas terras? Aplaudem-se as iniciativas. Cada dia nos centros de planeamento familiar, até nas sedes de concelho onde se luta por mais gente, se ensina a não procriar e se calam os métodos que estimulam e ajudam a crescer? E a isto chama-se favorecer a boa informação que as boas mães precisam e as jovens adolescentes não dispensam, porque o sexo deve ser seguro.

Encontram-se crianças desnutridas, que vão cada manhã para a escola sem terem comido nada e só fazem alguma coisa por elas os que lá dentro, atentos às situações e a sofrer por isso, procuram modos de ajudar? São as famílias que não se sabem governar nem educar,Continuam por aí crianças, como todos sabemos, sem alguém que as acolha quando a escola fecha? Oficialmente diz-se que isto não é verdade.

Entretanto, ignoram-se e destroem-se instituições que foram criadas e equipadas para ir ao encontro das famílias, que não podem estar para as acolher os filhos às horas oficiais…Vê-se, a cada passo, a corrosão interior progressiva de filhos pequenos por via do divórcio irreflectido de muitos pais? Estamos num país evoluído evoluído. Assim, os senhores legisladores e governantes, muitos deles também divorciados, continuam, impunemente, a fazer e a regulamentar as leis, não favorecendo, antes pelo contrário, nem a justiça, nem a dignidade da família, nem a consistência do casal e do agregado familiar, hipotecando, deste modo, o presente e o futuro do país.

Aparece agora para os países da UE, a partir de uma Directiva do Parlamento, uma proposta traduzida equacionada pelo binómio “Europa e Mercado”. Toda a concepção da vida em sociedade está vazada em resultados materiais. As instituições intermédias, que já contam cada vez menos, deixarão de contar, dando-se, assim, passos largos para a desumanização das pessoas e das relações sociais. A antropologia, com bases filosóficas e exigências de ética, é coisa de somenos importância, e as pessoas concretas são empecilhos para quem tem nas mãos os cordelinhos do comando, que não são, nem nunca foram, as pessoas que conhecemos e dão o rosto e o nome para serem meros executores…Por cá, tudo isto vai entrando, com a normalidade silenciosa que não acorda nem espevita, porque não faltam ideólogos que sabem adormecer o povo e não têm outro sentido de vida que o materialismo do “mercado” e do “prestígio”.Até quando? Até que o povo, famílias, instituições, grupos organizados e com princípios, o queiram. Não é o povo quem mais ordena?
Sim, se estiver acordado e afirmar a sua dignidade..

Thursday, May 24, 2007

A Viagem


Fiz uma Viagem. Um caminho, sozinha muitas vezes (falando apenas comigo) mas muito acompanhada. Deixei a cabeça por cá. Deixei-me conduzir e trilhei camilhos já trilhados, ao sabor do vento fiz o meu caminho e senti-o atravessar-se vezes, demais, em mim.
Revi o ano que passou,o presente que me guiou passo a passo desejando um futuro que só naquele caminho percebemos ter lugar! O Lugar esse é Sagrado, como o Caminho. Nos dois deixei um pouco de mim para me encontrar quando lá voltar. Se me perder sei onde me posso encontrar.

Algumas pessoas trilharam comigo este Caminho, passo a passo, como Anjos da Guarda. mesmo os comigo pouco falaram deram-me o silêncio do Céu.

A Madre Teresa de Calcutá um dia disse "Eu sou uma caneta, Deus pegou em mim e está a escrever uma carta de Amor ao Mundo", por isso sinto que nos passos que todos demos juntos, em direcção a Fátima, iam muitas "canetas" muitas histórias , únicas, comoventes, escritas por Deus, nas linhas da Vida de cada um de nós, e de tantas Vidas de tantos que levámos connosco.

Nos passos que demos aumentou a responsabilidade do caminho que Deus nos Dá e Pede todos os dias.

Aos pés de Nossa Senhora , trouxemos a Benção e a alegria da certeza de que precisamos da presença de Deus em tudo o que fizermos na nossa Vida. Todos os dias, todas as horas...!

Trouxe comigo muitas Vidas, muitos rostos, muitas histórias , muitas amizades, muitos nomes, muitas alegrias e também algumas lágrimas e emoções.
Por isso meus amigos, acho que Deus pegou em TODOS nós e escreveu uma carta de Amor ao Mundo. O remetente é Portugal, e são milhares de páginas... a pedir a Paz para cada um de nós e para o mundo.

Nos dias que vivemos , e nos passos que demos a pé para Fátima recebemos pela Mão de Nossa Senhora a Resposta, e um pedido: Para que continuemos a "deixarmo-nos pegar" para a História continuar a Ser escrita. A ser rezada na nossa boca, nas nossas mãos e nas nossas palavras no Terço. Uma História de Amor!

Um grande OBRIGADA a todos!

Joana

Tuesday, May 22, 2007

Deus está onde menos se espera

Há cerca de um ano, a Cândida pediu-me um pequeno contributo para o Passo a Passo. Hoje, quando estava à procura de inspiração para inaugurar este nosso blog, dei de caras com o artigo que escrevi no ano passado. Tomo a liberdade de o deixar aqui. Pode ser que sirva para inspirar outros.

Francisco Mota Ferreira

«Os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha indicado. Quando o viram, adoraram-no; alguns, no entanto, ainda duvidavam. Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes:«Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.» (Act 1,6-8)

I - A passagem de testemunho que Jesus Cristo deu aos seus discípulos permite-nos hoje professar e manifestar a nossa Fé. Mas, mais do que isso, exige e obriga-nos a dar testemunho Dela e a transmiti-La a quem nos rodeia.
Todos sabemos que, ao longo da nossa vida experimentamos emoções que, na maior parte das vezes, mexem connosco. Frequentemente, a primeira reacção é afastar estes sentimentos, enterrar sensações, distraindo-nos com a espuma diária dos acontecimentos, que tantas vezes nos consome e nos afasta do essencial. Adiando, na maior parte das vezes o que, constatamos depois, ser inevitável.
Por isso, hoje sabemos que a certeza inabalável da nossa Fé é algo que nos diferencia e nos fortalece para as adversidades do dia-a-dia. Somos felizes porque acreditamos, mas temos consciências que há um longo caminho a percorrer. Por nós, mas também pelos outros.

Por isso pedimos perdão pelos que não crêem, não adoram, não esperam e não amam Jesus Cristo.


II - Fátima é, para nós, o exemplo vivo da nossa Fé e encerra em si toda a determinação em ser Cristão e viver de acordo com a vontade de Nossa Senhora.

Ao aparecer em Fátima, a Mãe de Jesus lança um apelo a valores que hoje temos tendência a esquecer ou relativizar, mas dos quais somos co-responsáveis para a salvação de todos.

Fátima, com o seu apelo à conversão e penitência, centraliza aquele que é o âmago da mensagem deixada aos Pastorinhos: a Devoção ao Imaculado Coração de Maria.


III – Peregrinar até Fátima é, por tudo isto, a confrontação no terreno de uma Fé que diariamente nos é colocada em causa, nos é testada. Onde o desafio que a nossa sociedade apresenta não é o de sermos Católicos Apostólicos Romanos, mas mantermo-nos fieis ao caminho que Deus traçou para nós e que nos vai revelando em pequenos sinais.

Considero que os seis dias que nos levaram a Fátima permitiram levantar um bocadinho do véu, revelando o que Deus escolhe para todos e cada um de nós.

É por isso que Fátima é vivida pelos que têm a Graça de acreditar, como algo que se sente e não se explica.

É por isso também que qualquer um de nós sente e vibra estes dias de reflexão, oração e paz de diferentes formas e sentimentos.

IV – Entrar no Santuário, Rezar o Terço, Expiar os Pecados, Oferecer o Sacrifício a Nossa Senhora são tudo caminhos que, aparentemente e de forma fácil, qualquer um de nós foi capaz de o fazer nestes dias.

Mas quero crer que, ter a capacidade de ver para além desta semana de intensa oração, prepararmo-nos diariamente para a Salvação Eterna, viver de acordo como Ele quer que nós vivamos, esse é o verdadeiro Desafio que Deus nos apresenta em Fátima, por intermédio de Nossa Senhora.

V – Tenho a certeza que encontrei em todos vós um precioso auxílio que me irá ajudar em mais esta etapa da minha vida. Porque hoje, mais do que nunca, sei que Deus está onde menos se espera.
Estoril, Maio de 2006

porque e para onde caminhamos?


Porque e para onde caminhamos?

Quem se mete à estrada para experimentar fazer uma peregrinação, fá-lo por imensos e variados motivos. Vou à 22 anos e ainda hoje me pergunto o que me faz meter uns sapatos de ténis, uma roupa confortável, uma mochila sem dinheiro, sem “baton”, sem agenda, sem nada daquilo que normalmente uso, e em vez disso levo um guião (cheio de gralhas, sorry??), que me fala exclusivamente de Jesus, uma caneta, um rolo de papel higiénico, uns talheres, e uns pratos de papel, sem me preocupar onde como, durmo ou lavo. Vou. Livre!
Que me leva a arriscar um calor e um sol que não nos larga, ou uma carga de água que me molha até os ossos?
Que me leva a andar à beira da estrada com milhares de outras pessoas, a maior parte nem conheço, a levar com o CO2 na cara, arriscar ser atropelada e andar, andar até me maravilhar com o campo tão cheio de características parecidas com os ambientes da terra de Jesus? Lugares lindos e simples, pobres e semeados de flores que ali foram parar não se sabe como. Abrigar à sombra das Oliveiras tão ou mais antigas como esta História de Fátima. Aceitar um copo de água que alguém que nunca mais vou ver, me oferece. Rir até doer com graças que só as crianças entendem.
Que me leva a dizer em casa à família, até daqui a 7 dias, que parto porque vou rezar? Rezar por todos. E o mais extraordinário é que todos contam com a minha oração!
Pergunto-me ainda: que trago eu para casa? Que é que mais me tocou nestes dias? Rezei por todos?
São perguntas que me habituei a fazer cada dia, todos os dias. Nem sempre tenho resposta. Muitas vezes não cumpri nada do que me propus. Outras venho agradecida com a paciência de Deus e com a noção de que pequei, pequei muito no caminho. E sempre com a certeza do quanto sou amada por Ele.
Esta consciência de pecado, tem-me sido iluminada cada vez que julgo estar mais perto de Jesus. Como se Ele neste caminho da Vida, me quisesse mostrar como tantas vezes ando enganada. Tantas vezes a julgar e a consumir a Religião como se eu fosse alguém especial. E então compreendo porque uma peregrinação é tão importante.
Este ano foi muito especial por todas estas razões. Foi aquela que mais sublinhou algumas destas “nódoas”.
Em primeiro lugar parti este ano, convencida de que não precisava de ir.
Em segundo lugar, estive sempre meia irritada, como nada do que estava a viver fosse novidade para mim. Afinal o que eu queria era sensações novas, diferentes. Impressionante como podemos ser tão presunçosos.
Em terceiro lugar, escandalizei-me com algumas atitudes de algumas pessoas que tal como eu acham que temos direitos especiais e que as coisas devem ser feitas à nossa medida, a medida do Estoril.
Em quarto lugar, tive a audácia de desejar ouvir homilias novas, outras palavras. Esqueci-me que a mim ( a nós) nos é dado caminhar não com um, mas com 4 padres, que nos servem e ouvem do nascer ao por do sol, sem dizer não a ninguém. Esqueci-me que há muitas lugares no Mundo onde não uma única missa no espaço de quilómetros ou no ano.
Então, cada vez que faço este exame de consciência da minha caminhada, penso: ainda bem que fui. Ainda bem que não me acho santa, que ainda me falta tanto. Ainda bem que faço dos outros o meu espelho, para não criticar, mas mudar o que vejo errado em mim. Ainda bem que apesar de ser tão mimada pela vida, estragada pelo conforto e pela soberba posso recorrer ao sacramento da confissão e assim como Jesus disse a Nicodemos, poder nascer de novo. Vou percebendo que só me colando a Jesus, posso ser radicalmente sua seguidora. E digo em alto para nunca me esquecer:
Quero ser sua, mas de coração manso. Ao seu jeito!
Quero ser sua, mas disposta a deixar tudo!
Quero ser sua, sem impor nada aos outros!
Quero ser sua, com o meu exemplo e não pelas palavras!
Quero sorrir perante o que me comove e sem que nada me perturbe, ponha mãos à Obra.
Quero ser sua, como Ele me imaginou e sei que no dia que morrer posso dizer como Padre Hugo, no encontro em Santarém, Ele vai estar ali para me levar para sempre.
Por tudo isto quero agradecer especialmente aos nosso queridos Padres Dário, Hugo, Diogo, Eduardo, a disponibilidade, o cansaço e a paciência que tiveram connosco, sobretudo comigo.
Agradecer á tia Gena, oh Tia Gena, como eu gosto de ti! E como às vezes apetecia-me dar-te um beliscão, por aquilo que não entendo em ti. E como às vezes queria pegar em ti ao colo, para não te cansares e estares sempre à nossa “beira”.
Agradecer a todos os que me deram de comer, de dormir.
Agradecer à minha querida mãe, que quero aprender a amar cada vez mais.
Agradecer a Maria, Nossa Senhora, ter aparecido em Fátima, e me (nos) dar a oportunidade de percorrer este Caminho, que não é deste Mundo, mas já do Mundo que há-de vir.

Sofia Guedes
Junho 2007

Monday, May 21, 2007

Há sempre uma mão para nos ajudar

"Há sempre uma mão para nos ajudar.

Esta parece ser uma constante ao longo do caminho. Em grupo, somos quase uma família. Se não temos água, logo há alguém que estende a garrafa e enche a nossa.

Se nos esquecemos dos pratos e garfos de plástico em casa, não é preciso esperar muito para que nos emprestem os talheres.

Se vêem que não vamos a andar bem, logo nos perguntam o que temos. E não demora muito para que se chame alguém que tenha uma pomada milagrosa ou nos faça uma massagem.


Não é preciso que seja alguém conhecido para que essa pessoa se aproxime de nós. São gestos que vêm muitas vezes de desconhecidos, mas que em comum têm o facto de estarem a trilhar o mesmo caminho.

Como Simão, o Cireneu, fez ao carregar a cruz de Jesus, há sempre alguém para nos ajudar a superar as dificuldades..."

Por João Duarte in rcaminhos
Foto:
João Duarte