Monday, September 24, 2007

O Mistério daquele Lugar


O Mistério daquele Lugar


Nuno Serras Pereira
22. 09. 2007


Num sábado à tarde do mês de Agosto pus-me a caminho da Praça da Alegria em busca da tão gratuitamente publicitada "clínica" dos Arcos. Tinham-me dito que ficava por ali perto e, de facto, subindo um pouco, como quem vai para o Príncipe Real, logo a descobri. Está sedeada num prédio novo na Rua da Mãe-de-Água. A sua parte fronteira, com a porta de entrada, dá para a intersecção de duas vias que se cruzam – a já referida e a Travessa do Rosário –, de modo que o matadouro se estende, por um lado, para a parte superior da Rua da Mãe-de-Água, que logo ali termina no Chafariz do Vinho e, por outro, pela Travessa do Rosário, fazendo traseira com um Templo da "Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica".

Em síntese: o abortadouro, calvário do nosso tempo, está situado junto a uma cruz – as duas vias formam uma cruz perfeita, alicerçada na Praça da Alegria –, na rua da Mãe-de-Água, a meio da Travessa do Rosário, nas traseiras de um Templo Evangélico.

Quando ontem à tarde ali voltei, ao descer a Avenida da Liberdade, começou por me impressionar a quantidade imensa de gente que ia e vinha tratando das suas coisas ignorantes ou indiferentes à matança que ali decorria tão perto… Chegado ao Gólgota, enquanto rezava o terço por aquelas mulheres grávidas e seus filhos que entrevia pelas vidraças transparentes da portaria, não pude deixar de meditar sobre o mistério daquele lugar.

O que primeiro salta à vista é, evidentemente, o mistério da iniquidade. Não é possível encontrar uma explicação meramente racional para uma cegueira tamanha, para uma loucura tão desumana e cruel, tão alheia do amor e da solidariedade, tão contrária à solidariedade e à justiça.

Mas logo a este mistério tremendo, providencialmente, se sobrepuja um outro Mistério que nos envolve e penetra de uma esperança contra toda a esperança. O sangue inocente, derramado pelos algozes actuais é, num certo sentido, sangue de Cristo, ali de novo e repetidamente crucificado. A Mãe-d'água e o Chafariz do Vinho, que nela se encontra, lembram o Coração trespassado de Cristo, do qual brotaram sangue e água, sinais da Eucaristia e do Baptismo; a água, sabemo-lo bem, é símbolo do Espírito Santo que tudo vivifica e purifica. A Mãe é a Virgem Maria, Esposa do Espírito Santo, e, por isso, cheia de Graça, isto é, dEle, o qual nos foi e é dado por Seu Filho Jesus.

O Rosário (isto é, o Terço) é aquela oração, feita na companhia de Nossa Senhora, eminentemente centrada em Jesus Cristo – nos mistérios da Sua vida, morte e ressurreição –, que continuamente brota do Pai, através da oração que o Salvador nos ensinou, e desemboca no Glória à Trindade, lembrando-nos as coisas últimas – o Inferno, o Purgatório e o Céu –, e ensinando-nos a confiança na intercessão da Mãe de Deus humanado.

Na Travessa do Rosário, um azulejo representa a Imaculada esmagando a cabeça do "dragão enganador" – Satanás –, na companhia de um santo Bispo ou Papa, que não consegui identificar. A Imaculada Conceição, Senhora de Lurdes, padroeira da Ordem Franciscana e Rainha de Portugal, cujos membros, tantos, tanto tempo trabalharam para que fosse reconhecida como tal, parece indicar que assim como durante séculos persistimos e perseveramos com grandes dificuldades e obstáculos no combate denodado por essa verdade, assim importa fazer de novo para que esta outra verdade da dignidade de cada ser humano desde a sua concepção seja reconhecida, respeitada, protegida, amada e promovida até à sua morte natural. A necessidade de comunhão com a Hierarquia da Igreja e o acolhimento pronto do seu Magistério, procurando diligentemente pô-lo em prática, estão representados no santo Bispo, enquanto Bispo. A importância vital de vivermos na santidade que Deus nos outorga está também significada no santo Bispo, enquanto santo, mas principalmente na Imaculada Conceição cuja fidelidade absoluta e permanência total e incondicional no Espírito de Deus, até ao fim, lhe valeu o título de Imaculado Coração de Maria.

Como ali se praticam pecados atrocíssimos logo nos lembramos de Francisco, pastorinho de Fátima, que tristíssimo pela enorme mágoa que o pecado traz a Jesus O procurava consolar, reparando com amor, e pedindo a brados de alma que O não ofendêssemos mais, pois já estava muito ofendido. Ali podemos consolar Jesus, em oração e sacrifícios de reparação. De pronto nos acode, também, Jacinta, que horrorizada pela perdição ou condenação ao Inferno de muitos pecadores, de imediato se decidiu à oração e sacrifícios instantes e prementes para que mais ninguém tivesse tal destino, mas todos pudessem arrepender-se, converter-se e salvar-se. Recordando que Nossa Senhora comunicou a Jacinta, aquando da sua estada em Lisboa por enfermidade, que a maioria dos condenados o eram por causa dos pecados sexuais, e verificando ali as suas consequências – a morte propositadamente provocada dos próprios filhos –, perceberemos melhor o alcance daquela revelação.

Depois, como não lembrar Lúcia que ficou para espalhar a mensagem e garantir o seu cumprimento, não como nós achávamos que devia ser, mas sim como Nossa Senhora pediu e Deus determinou. E como evitar meditar seriamente que o Papa João Paulo II, que de si mesmo afirmou: "Eu sou o Papa da vida e da paternidade responsável e toda a gente tem de o saber … Sim, eu cheguei à Cadeira de S. Pedro, vindo da Humanae Vitae em vista da vida humana " (Cf Padre Nuno Serras Pereira, O Triunfo da Vida , p. 260, Crucifixus, 2006), ligou explicitamente a mensagem de Fátima à defesa dos nascituros na homilia que proferiu nesse Santuário, aquando da canonização dos pastorinhos?

Mas se toda a mensagem de Fátima remete para aquele lugar, como temos vindo a verificar, então é porque o que ali acontece remete, por sua vez, para Fátima. Se Fátima tem de ser levada aos Gólgotas de hoje isso significa que o anúncio explícito e sistemático do Evangelho da vida tem de ser levado a Fátima. Fátima, torno a repetir o que tenho dito e escrito noutros lugares, tem que ser o centro da defesa e promoção da vida humana em Portugal e na Europa, em especial na sua fase inicial e terminal.

Mas o Mistério daquele lugar também se revela na colocação providencial de um templo evangélico, traseira com traseira, que nos lembra a relevância indispensável do ecumenismo. Como em outros países onde o aborto foi liberalizado parece que o Senhor nos quer indicar que o caminho mais urgente e com resultados práticos mais densos de unidade se dará na aliança das várias confissões cristãs em defesa da dignidade da pessoa humana em todas as fases da sua existência, desde a concepção até à morte natural.

A praça das alegrias levianas, vãs e mundanas conduz à ignominiosa injustiça da tortura e da morte dos mais vulneráveis, inocentes e indefesos. Mas se ali, e em outros sítios semelhantes, permanecermos, física e espiritualmente presentes, os milagres acontecerão transformando corações e salvando vidas, que já não regressarão à baixeza das diversões e jocosidades vis e insensatas da praça, mas tomando a vereda do rosário (terço) ganharão a rua da verdadeira e perfeita Alegria que os conduzirá, em via ascendente, ao Filho do Rei (Cf Lc 14, 16-24 e Mt 22, 1-14), ao verdadeiro, definitivo e eterno Príncipe Real. Onde haverá grande festa e júbilos eternos, pois o que estava perdido será encontrado e o que estava morto voltará à vida (Cf Lc 15, 32).

Thursday, September 13, 2007

OLÁ LISOBA, DAQUI PORTO


OLÁ LISBOA, DAQUI PORTO!
Mas porque raio confundimos tudo e não tratamos da alma como tratamos do corpo?
É verdade que o nosso corpo - templo do Espírito Santo - tem que ser cuidado, conservado e "guardado". Mas... Não será que às vezes exageramos ou melhor, confundimos o essencial com o supérfluo? Aconselhado - ou melhor "intimado" pelos meus filhos que temem que a minha "imagem" borre a "imagem" que eles imaginaram para mim, o José Joaquim deu-me de presente de Natal um vale "SPA SHERATON HOTEL" que me dava direito a uma manhã inteira no SPA - 5 horas...!!!, usando todos os cantos e recantos que me apetecesse, o que quer dizer entrar na piscina empoleirar-me em todas as máquinas possíveis e imagináveis, relaxar no jakuzi, transpirar no sauna, etc, rematando com uma especial limpeza de pele seguida de massagem de relaxamento - com pedras, mãos, algas e mais o que se possa pensar, e onde a imaginação do homem possa chegar. Bem, a primeira coisa que fiz foi esquecer-me e deixar caducar o prazo do dito vale, para grande indignação de todos. Mas "ele" há amigas fantásticas e uma delas, muito incomodada, lá foi conseguir uma renovação do prazo e marcou-me hora. Chegou o grande dia!!! O hall do htel é muito bonito, enorme, sendo que todas as divisões são de vidro, o que lhe dá uma luz linda, um brilho espantoso, mas que me levou a entrar e percorrê-lo todo de braços e mãos bem esticados, não vá o diabo tecê-las e dar de nariz num dos ditos. (Mas o diabo ali não "tece" nada porque está bem contente com o que lá se passa). Desci então ao "menos um" onde uma recepcionista fantasticamente bonita e bem arranjada me recebeu risonha. Mostrei o meu vale e logo a seguir apareceu outra igualmente bonita e igualmente risonha que me levou a visitar todo o SPA: a piscina - de umas dimensões incríveis, uma água transparente e clara, com plantas tropicais a apontarem ansiosas para um céu que furava por uma clarabóia enorme; o ginásio, as máquinas, etc. . "Sabe, eu queria despachar isto o mais depressa possível, por isso se pudesse já fazer a limpeza de pele e a massagem, ficava-lhe muito agradecida". O sorriso tornou-se menos radiante, e ligeiramente desdenhoso "bem, se prefere assim..." e enfiou-me numa sala redonda, toda forrada de veludo escarlate - chão, paredes e tecto - rodeada de cadeiras e de camas enormes, essas todas em cor de laranja, o que provocou no meu coração um peso. "A sua assistente já a virá buscar". Por ali fiquei, agarrada ao terço porque entretanto eram 11h30, a minha hora da cadeia de terços da tia Gena. Por toda a parte folhetos apetitosos em cima de mesinhas colocadas estrategicamente, espreitavam-me tentadores com listas dos tratamentos que ali poderia fazer… para ficar mais bonita… mais nova… mais magra…, …, … Outra menina - bonita e escultural como as outras, apareceu toda sorrisos a tentar convencer-me em que me ía fazer muito bem dar um saltinho ao jakuzi antes da limpeza de pele. Aí afinei e disse-lhe que o vale era meu e o podia usar como quisesse... "Não sei se sabe o preço desse vale e parece-me uma grande pena desperdiçar assim tanto dinheiro..." "é... também me parece que tudo isto é um grande desperdício... de dinheiro e de outras coisas...". O dinheiro… sempre o dinheiro… Finalmente veio então mais uma menina – esta com um aspecto mais profissional, isto é, menos enfeitada e menos tentadora – que me convidou para uma sala das mil e uma noites: "É para fazer o favor de se despir, guardar a sua roupinha num destes cacifos, e pôr este roupãozinho, estes chinelinhos e estas cuequinhas". Desconfiada olhei à volta. Desde miúda que nunca suportei ter que me despir em ginásios em frente de outras raparigas ou mulheres, nunca percebi se por pudor ou por sofrer de psoríase desde bebé, o que me fazia uma vergonha e uma humilhação terríveis. Mas havia divisões individuais para o efeito. Mais sossegada obedeci e ao sair,lá estava ela pronta a "deitar-me a mão”. Numa pequena divisão deitei-me numa cama que começou logo a mexer ajustando-se "à minha medida" enquanto a menina me dava a cheirar os vários cremes possíveis “para o meu caso especial”, tal prova de vinhos no melhor restaurante do mundo. A música oriental era repetitiva e começou a enervar-me "não se importa de desligar a música? É que queria rezar o terço e assim não consigo" “O terço...?" "sim, o terço...". A tal massagem era de facto deliciosa, todos os músculos foram trabalhados com suavidade e sabedoria, enquanto uma pasta fresca me abria os poros da cara para preparar a pele para a limpeza. Ave-Maria... Santa-Maria... Maravilha de terço. Os passos da menina não se ouviam porque tudo ali é almofadado, forrado, atenuado... para ninguém ouvir ninguém... para ninguém saber de ninguém... Era dia de Mistérios Gozosos. Tive "espaço" para meditar com tempo os "mistérios" da vida do Senhor, os "mistérios" da minha, da nossa vida... O que faria Maria àquela hora? É… àquela hora estaria a dar um SIM enorme ao seu Senhor Deus... Comecei a explicar à menina a alegria que me ía na alma por aquele SIM tão espantoso, tão incrível, tão decisivo na vida dela, na minha, na do mundo... "A senhora é engraçada, nunca tratei ninguém assim...". Lembrei-me do que ouvi a um bispo belga que conheci em Fátima num retiro, que viveu muitos anos no deserto junto com nativos e beduínos, e que mantinha um silêncio impressionante - de voz, de olhar, de gestos, de postura... até o corpo era silencioso... "quem rezar o terço com tempo - sem pressas, quem meditar cada mistério demoradamente - tem o Céu garantido”. Desde aí que tento dar um lugar muito especial ao terço e vou mudando a meditação dos Mistérios para não cair na rotina. …Mas a suavidade começava a transformar-se em violência…! A cara era agora espremida por todos os lados para saírem os pontos negros. “Ai… ai…” “Oh, desculpe, mas realmente a senhora não tem o hábito de limpar a pele….” E zás lá vinha mais um beliscão para espremer e arrancar entre as unhas mais outro ponto negro…! Ave Maria… Santa Maria…Mas assim não dava. Finalmente deu por finda a sessão e pôz-me em toda a cara e corpo uma máscara que cheirava a rosmaninho e dando-me uma palmadinha disse que ficasse em repouso, que viria dentro de 15 minutos. Uff, iria “ter alta”. Nesse tempo, muita coisa me veio à cabeça, muitos pensamentos, muitas pessoas, muitas realidades, muitas injustiças, muitas vaidades, muita pobreza, muita riqueza, …, …, … . Mas o que mais impressão me fez foi perceber que se eu deixar que Jesus me faça este tratamento ao coração e à alma… se cada um de nós deixar que Jesus venha espremer todos os pontos negros da nossa alma e arrancá-los um a um, vai doer muito, claro! Se deixarmos que Ele venha massajar o nosso coração, se O deixarmos desdobrar e tocar em tudo o que está escondido desde há anos dentro de cada ruga, vai custar muito, claro! Mas o resultado final ver-se-á no nosso rosto e na luz do nosso olhar: poderemos transformar o mundo! A que ponto chegámos, Senhor, para confundirmos o essencial do supérfluo desta miserável maneira? Será que temos a consciência de que cada hora de tratamentos destes podem tirar a fome, salvar a vida de muita gente? Saltei da cama antes do tempo, chamei pela menina, agradeci-lhe e puz-me ao fresco, envergonhada por estar nestes preparos e ser peregrina de Maria a Fátima a pé! Será que Nossa Senhora me viu nessa manhã? O que teria pensado? Mas porque raio confundimos tudo e não tratamos da alma como tratamos do corpo???
Teresa Brito e Cunha Olazabal

Sunday, September 9, 2007

CARIDADE, A VIRTUDE DO AMOR (Sofia Guedes)






"1. Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
2. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todo
s os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada.
3. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!
4. A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante.
5. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor.
6. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.
7. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8. A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará.
9. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita.
10. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá.
11. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança.
12. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido.
13. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade".
(1Cor 13)

Caridade – a Virtude do Amor

Depois de umas férias excelentes, com todos os temperos para que soubessem a férias verdadeiras, voltei a “casa” e à vida que o lugar e o tempo me propõem.
Cheguei e tinha nem mais nem menos que a minha irmã Ana internada no Hospital, com um grave problema de ossos e o meu pai numa Residência de velhinhos, onde a cada dia que passa podemos reconhecer os traços das suas vidas agora cansadas e como que a prepararem-se para o dia que o Senhor os há-de chamar.
Ao mesmo tempo, no esplendor da vida, mas com as dificuldades e desafios dos dias, a minha filha mais velha a precisar da minha ajuda para lhe ficar com a minha neta e assim ela poder organizar um pouco da sua vida.
Tudo isto acrescenta à minha própria vida de família, com o meu marido, e a minha filha mais nova de 11 anos ainda em férias (quase a acabarem) a pedir para brincar em casa com amigas, pedir para passear com ela de bicicleta, pedir a minha companhia.
Devo dizer que nunca , mas mesmo nunca me tinha encontrado numa situação semelhante. Em 50 anos, sempre tudo me correu conforme eu gostava, como se fosse eu a comandar o tempo e os acontecimentos. É verdade que nos últimos 25 anos aprendi com Jesus, que a nossa vida só tem valor quando nos esquecemos de nós e olhamos para os outros. Eu tentei seguir este caminho, e como não tinha directamente nenhum drama ou dificuldade, dediquei algum do meu tempo aos outros ora visitando doentes, ora organizando eventos como o Presépio na Cidade, a Caminhada pela Vida, etc. Tudo isso fiz com muito empenho e coração. Tudo isso fiz no exercício da minha Liberdade e com um enorme amor a Cristo, mas tudo isso era-me sempre distante porque era por opção, escolhido por mim. Curiosa a maneira como Deus nos trabalha?!!?...
Acontece que tudo mudou e todas essas experiências prepararam-me, educaram-me , para eu reconhecer que desde há um mês para cá, a barreira que dividia o sofrimento que eu reconhecia e via, mas sem nunca o tocar, fosse agora retirada e toda a nova realidade, me fosse dada de graça. E quando digo graça, é mesmo Graça!
O que tenho aprendido, os medos que afinal existem mas são possíveis de ultrapassar, são também os meus. Faço parte desse “filme” que é a vida e onde o sofrimento, a doença, a aproximação da morte me dizem e me falam muito intimamente.
Sem me arrastar demasiado, não posso deixar de escrever e de me admirar com o que Deus fez em mim, através de toda a minha vida:” Maravilhas!”
Hoje quando visito a Ana e o meu pai, venho com uma imensa Paz. Visito-os sem olhar o relógio, visito-os para lhes tocar, dar mão, olhar fundo nos seus olhos e estar… à Ana leio poesia que nunca tinha lido antes. E como é Bela! Ao meu pai, dou-lhe a mão, encho-o de festinhas e digo vezes sem conta ,como gosto dele.
A Ana espera pelas melhoras, reza e pede-me que reze para que a coragem e a inteligência a ajudem nos dias que ainda tem que sofrer. O meu pai, tranquilo, mas cada dia mais longe, diz-me que está pronto para partir, sem medo. Diz-me que se sente preparado para morrer e que embora sabendo que o amamos muito e ele a nós, está cansado e gostava de descansar “Lá”, já que se confessou e sente-se leve e pronto para a “viagem”.
Entretanto e não sei como isto acontece, consigo passear a minha neta, e dar a volta de bicicleta com a minha filha mais nova.
É um mistério este o da vida!!??
E esse mistério tem um nome: AMOR
Ousei escrever sobre o Amor, porque o sinto profundamente e porque na Residência onde está o meu pai, uma senhora linda já de muita idade e com problemas motores, me disse a propósito desta relação de filhos e pais, e netos e avós: “Sabe? Na nossa idade, este amor que sentimos em nós e em vocês, é transcendente! Este Amor, é tudo o que nos resta e é tão bom!” Então descobri que esta senhora me tinha dado a resposta ao mostrar-me como eu própria fazia parte deste Amor, que é como diz S. Paulo sobre a Caridade na sua carta aos Coríntios.

Sofia Guedes
Set. 07

IGNORANCIA E RELATIVISMO MORAL


Ignorância e relativismo moral, inimigos do ecumenismoIniciam os trabalhos da III Assembléia Ecumênica Européia de SibiuSIBIU, sexta-feira, 7 de setembro de 2007 (ZENIT.org).- O cardeal Peter Erdo, presidente do Conselho de Conferências Episcopais da Europa (CCEE), exortou os participantes na III Assembléia Ecumênica Européia (EEA3), que acontece em Sibiu, Romênia, a dar a conhecer o cristianismo em sua verdadeira essência e a combater o atual relativismo moral entre os cristãos das diversas confissões.Durante o discurso de abertura, em 5 de setembro, o cardeal Erdo, presidente de um dos dois organismos eclesiais promotores do evento, disse que «a primeira tarefa que temos também aqui em Sibiu é aprofundar e viver o cristianismo».«Com freqüência, constatamos com dor até que ponto o cristianismo é hoje pouco conhecido na Europa em sua verdadeira essência – declarou –. Circulam muitas máscaras do cristianismo, com freqüência conscientemente falsas».«Creio que o primeiro grande obstáculo ao ecumenismo é a ignorância sobre o cristianismo e a superficialidade da vida cristã», acrescentou, sublinhando a urgência de «que o caminho ecumênico seja um espaço de aprofundamento espiritual e teológico».O purpurado afirmou também, como ulterior tarefa ecumênica urgente, «a de confrontar-nos juntos com a modernidade e a secularização. As comunidades cristãs do Leste e do Oeste têm experiências diversas. Temos algo a aprender uns dos outros».Destacou o «subjetivismo» que se vive atualmente, em um momento no qual é «importante sublinhar o sentido e o valor objetivo de muitas coisas e comportamentos humanos» e «mostrar juntos que o Evangelho é capaz de dialogar com cada cultura e tem a força de enriquecer toda cultura».No mesmo dia, o metropolita Kirill, de Smolensk e Kaliningrado, presidente do Departamento para as Relações Exteriores do Patriarcado ortodoxo de Moscou, falou de uma falta de homogeneidade entre as diversas confissões cristãs acerca da concepção do homem e das normas morais que devem guiá-lo.Constatando que «algumas comunidades cristãs revisaram unilateralmente ou estão revisando as normas de vida definidas pela palavra de Deus», o metropolita perguntou: «Por que está acontecendo justo hoje, nos inícios do século XXI? Por que alguns círculos cristãos chegaram a favorecer tanto a idéia de normas morais em evolução?».Neste sentido, afirmou que «há uma coincidência suspeita entre a nova postura ante a moralidade nos círculos cristãos e a difusão do paradigma pós-moderno na sociedade secular. O pós-modernismo, em sentido amplo, implica uma compatibilidade de visões e posições incompatíveis».«Talvez esta postura esteja justificada em algumas esferas da sociedade, mas não pode ser justificada pelos cristãos no reino da moralidade. Os crentes não podem reconhecer ao mesmo tempo o valor da vida e o direito à morte, o valor da família e a validade das relações entre pessoas do mesmo sexo, a defesa dos direitos das crianças e a deliberada destruição de embriões humanos com fins médicos», sublinhou.O metropolita Kirill insistiu na necessidade de os cristãos defenderem «as normas éticas» comuns e buscar aliados em outras religiões que comportam posturas morais semelhantes.Desta forma, sugeriu que os cristãos podem também encontrar apoio em «pessoas leigas que têm uma visão não religiosa mas apóiam normas morais similares às cristãs».Para alcançar este objetivo, o metropolita disse que as comunidades cristãs deveriam trabalhar com a opinião pública e manter um diálogo com as estruturas nacionais e internacionais.