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Friday, October 30, 2009

Domingo, dia 1 de Novembro - Solenidade de Todos os Santos

BEM-AVENTURADOS…
(Mt 1,2)
O apelo à santidade já vem de muito longe, já percorreu milhares e milhares de anos: “Sede santos, porque Eu o Senhor vosso Deus sou Santo”. Esta palavra do início da Bíblia foi ouvida e rezada por milhões de crentes, por uma multidão sem número: “sede santos”. O Povo de Deus tinha que ser um Povo de santos, pois o Senhor era o “Santo”. Deus é o Deus Santo. Criados por Ele temos que ser santos como Ele é Santo. Depois, no Novo Testamento aparecem muitos apelos à santidade: “sede perfeitos como o Pai é perfeito”. “ A vontade de Deus é a vossa santificação”…Não cessam os apelos, os convites, os desafios a uma vida santa.
Hoje ao celebrar a Solenidade de Todos os Santos, estes apelos devem ecoar dentro de nós. O mundo, a Igreja precisam de santos. Na família, no seio da sociedade, nas escolas, nas fábricas, na vida social. Sacerdotes santos, consagrados santos, leigos santos. Correspondendo aos apelos de Deus temos que caminhar na santidade, tentar responder com uma vida mais evangélica. Os santos são os grandes benfeitores da humanidade e da Igreja. São sentinelas da esperança, são portadores de Deus e da sua graça, homens e mulheres que amaram sem medida, contemplativos na vida, corações em fogo, vidas apaixonadas por Deus e pelos irmãos, pessoas que se esquecem de si para se darem aos outros, sobretudo aos mais pobres e aos que mais sofrem, vida impregnadas do divino, vidas cristificadas pelo dom da graça. Homens e mulheres que tomaram o Evangelho a sério e viveram a alegria das bem-aventuranças, que o texto da Eucaristia de hoje proclama.
Todos os Santos, canonizados ou não, significam todos os que já partilham a comunhão total com a Trindade, que participam da vida em Deus em plenitude, na festa que nunca mais terá fim. Santos de todas as raças, de todas as idades, de todas as culturas, de todos os estados de vida…santos da nossa família, da nossa terra, muitos dos nossos amigos… Que alegria celebrar hoje essa multidão imensa de bem-aventurados. É convite à acção de graças, convite e apelo à nossa santidade. Não à mediocridade, não à tibieza, não à preguiça espiritual, não ao mundanismo que nos impede viver o Evangelho mais a sério. Um sim radical e generoso ao amor, à vida, à justiça, à verdade, às bem-aventuranças assumidas e vividas a sério, com audácia e determinação.
A santidade é mais dom de Deus que conquista nossa. É acção do Espírito Santo que nos vai trabalhando interiormente e santificando, vai curando e purificando. Acção da graça, sobretudo da Eucaristia que serve de remédio para a alma e para o corpo. Protecção da Virgem Maria que intercede, ampara, encaminha. Acção misteriosa da Palavra de Deus em nós, que nos burila e converte, que nos faz ser ao jeito de Jesus. Mistério insondável do amor que nos quer conquistar o coração, fazer atear sempre mais o fogo divino em nós. Tudo, como é claro e evidente, com a nossa colaboração, a nossa participação, o querer determinado da nossa vontade, o esforço deste “vaso de barro”, que quer caminhar com Deus e em Deus para ser “bem-aventurado”, feliz, homem e mulher a viver a paixão por Jesus, a comunhão trinitária, a alegria do dom e do serviço evangélico, a assimilação progressiva da Palavra. Sem esquecer nunca que a santidade tem um nome: o amor, a caridade, que é serviço, dom, entrega, oblação, que se expressa de muitos modos, como ensina S. Paulo, mas sempre num desejo de amar mais, amar melhor, para ser “bem-aventurado”, para viver sempre mais feliz.

Friday, October 2, 2009

XXX Domingo Comum, dia 25 de Outubro

JESUS, TEM PIEDADE DE MIM

(Mc 10, 47)

Que belo encontro, este do Evangelho de hoje, entre o cego chamado Bartimeu e Jesus, Filho de David, o Rabi de Nazaré. Quem sofre e acredita, pede, suplica, grita, insta, persevera na súplica. Foi o que fez o cego. Se era cego dos olhos do corpo, via bem dos olhos da alma, pois tinha fé adulta, amadurecida, fé que se expressava na oração fervorosa e perseverante. Fé que o levava a acreditar em Jesus, como Médico divino. Se os olhos do corpo não O viam, os da alma enxergavam bem que diante de si tinha Aquele que o podia curar da sua doença. E só houve milagre porque havia fé naquele coração, porque os olhos da alma eram iluminados pela luz viva da fé. E Jesus vai render-se perante tal fé e fazer o milagre: “Vai, a tua fé te salvou”. A fé viva é que salva, é que alcança milagres, é que fez os cegos verem, os coxos andarem, os leprosos serem curados. Como precisamos de uma fé desta dimensão para que nas nossas vidas se consigam mais milagres, mais curas.

Todos somos doentes, todos precisamos do Médico divino, todos temos que suplicar: “Senhor fazei que eu veja, que eu ouça, que eu ande, que eu seja limpo da lepra”. Todos temos que aceitar nossa condição de doentes e suplicar com perseverança: “Senhor cura-me do meu orgulho, da minha vaidade, do meu egoísmo, da minha tibieza, da minha cegueira espiritual, da minha afectividade doentia”. A grande prece tem de ser sempre “Senhor cura-me”, sou doente, sou pó e cinza, são alguém que precisa de cura. Todos temos que assumir a nossa fragilidade, com o cego Bartimeu e ter fé viva para gritar por Jesus e pedir que nos cure.

Curado, Bartimeu, seguiu Jesus pelo caminho. As curas da graça, da acção de Deus, são para seguirmos mais e melhor Jesus, estarmos mais perto d’Ele, assumir ser discípulos mais convictos e convincentes. Não seguir Jesus de longe como fez Pedro na noite das negações, mas segui-Lo de perto para nos tornarmos mais semelhantes a Ele, para rezar como Ele rezou, para amar como Ele amou, para sofrer como Ele sofreu, para ser bom, manso e humilde como Ele. As curas são para nos tornar discípulos mais identificados com Jesus Cristo. É para esta identificação que a graça nos cura, nos cristifica, nos transforma, nos faz ser homens e mulheres novos. Bartimeu, pelo poder da cura, não só começou a ver, mas seguiu Jesus de Nazaré, caminhou com Ele. Fez bem ao contrário dos nove leprosos, que quando se apanharam curados, nem sequer vieram agradecer, quanto mais seguir Jesus.

O nosso mundo precisa da cura que só Jesus pode conceder. Mundo de ódio, de guerra, de crime, de injustiça, de maldade, de roubo, de fome, de desemprego. Mundo fragilizado por tantas doenças que o Médico divino quer curar. Em nome deste mundo temos que rezar, que pedir cura, que suplicar graça. E as nossas famílias também precisam desta cura, como as nossas paróquias, os nossos Movimentos apostólicos. A graça dos sacramentos, sobretudo do dom da Eucaristia pode curar. É o Médico divino que vem a nós para ser “protecção e remédio para a alma e para o corpo”. Mistério insondável da graça, do divino amor, d’Aquele que derramando seu sangue os liberta e cura, que vindo dentro de nós na Eucaristia, feito Pão do Céu, nos quer curar como fez a Bartimeu, o cego de Jericó e como tem feito a tantos ao longo dos séculos. Talvez nos falte fé viva para pedir a cura, talvez nos falte perseverança na oração, talvez nos cansemos de pedir. Mas este cansaço, esta fragilidade orante, já é uma doença espiritual grave. Continuemos a pedir “Jesus, Filho de David, cura-nos”. E o milagre acontecerá.

XXIX Domingo do Tempo Comum

VEIO PARA SERVIR E DAR A VIDA


Jesus aproveita o pedido feito pela mãe dos filhos de Zebedeu, ou seja, por mãe de Tiago e João, que desejava para os filhos um lugar à direita e outro à esquerda, no Reino de Jesus, talvez para ela o reino deste mundo, com a expulsão dos romanos, não o Reino dos Céus, para dar uma catequese séria e oportuna acerca da humildade, do serviço, do dom da vida. Com Jesus e no seu Reino, os últimos são os primeiros, os grandes são os que servem os outros, a grandeza está na humildade. É este o caminho evangélico. Não pretender honras, elogios, vanglória, triunfalismo, mas ser modesto, simples, serviçal, despojado para poder ser mais humilde.

E para terminar o ensinamento Jesus apresenta o seu próprio exemplo, afirmando que o Filho do Homem não veio ao mundo para ser servido mas para servir e dar a vida em resgate por todos. Duas facetas maravilhosas da vida de Jesus, do seu amor, da sua maneira de Se comprometer connosco. A paixão pela humanidade leva-O a servir, a assumir ser servo, não só do Pai, como Servo de Iavé, mas servo dos homens. Sua existência terrena foi um constante serviço a todos: pecadores, doentes, frágeis, marginais da época, etc.

Talvez o símbolo máximo desse serviço tenha sido o lava-pés, quando na Ceia Se ajoelha e lava os pés aos seus discípulos, gesto de profunda humidade, de esvaziamento próprio, de serviço, que nem um escravo judeu fazia. E ao terminar esse gesto, no capítulo 13 de São João, Jesus afirma: “Chamais-Me Mestre e Senhor e dizeis bem, pois o sou. Mas se Eu vos lavei os pés também vós deveis fazer isso uns aos outros”. E termina o ensinamento do lava-pés dizendo: “Felizes sereis se o puserdes em prática”. Ou seja, a felicidade segundo o Evangelho, está no serviço, na atitude humilde de lavar os pés, de estar de joelhos para servir os outros, com coração generoso e simples, com atitude de verdadeira humildade. E é neste gesto que está a grandeza do cristão.

Mas Jesus, como ouvimos, afirma que veio para dar a vida em resgate por todos. Dirá noutra passagem que a maior prova de amor é dar a vida pelos amigos. E Ele vai dá-la no auge da dor e do amor, na morte da ignomínia, crucificado, feito pecado e maldito, feito verme da terra. Morte que é acto de acto, que vai resgatar a humanidade do pecado e do mal, que nos vai fazer homens e mulheres livres. A morte, como entrega até ao limite, foi a expressão máxima do amor. De facto só o amor salva, só o amor redime, só o amor liberta.

Servir e dar a vida pelos outros é o caminho proposto por Jesus. Quanto isto nos é difícil e nos custa a colocar em prática. Somos demasiado egoístas, comodistas, egocentristas, aburguesados, desejosos de honras, de triunfalismos, de vaidades, de busca do primeiro lugar, de soberba que nos impedem de servir, de sermos servos humildes, atentos e despejados. E como estamos demasiado apegados a nós próprios e a tudo o que é nosso, custa-nos dar a vida, custa-nos amar sem limites, custa-nos desprendermos para amar e servir. Mas o caminho apontado por Jesus é este. Só trilhando este caminho caminhamos na vida de santidade, na vivência coerente e audaciosa do Evangelho, e alcançaremos a graça da felicidade e da alegria que nos vem do serviço e do dom de nós próprios. Nenhum avarento, nenhum egoísta, nenhum ciumento, nenhum egocentrista, encontra a felicidade. Esta só se encontra no caminho oposto: servir e amar, morrendo a nós mesmos.

Tuesday, June 2, 2009

"O amor não tem desculpas"

Há muitas maneiras de rezar. Há tempos de oração mais longos que exigirão maior preparação, que necessitam uma paragem das minhas actividades, que poderão mesmo exigir-me uma ida ao sacrário ou uma separação dos outros. Para este género de oração pode suceder que às vezes me sinta impedido por diversas circunstâncias. Mas aqui queremos referir-nos a outro tipo de oração: a elevação do pensamento a Deus, o centrar n’Ele o coração, o pensar no Senhor ao longo do dia, mesmo durante o trabalho, no meio das ocupações diárias, rodeado até por muita gente e por muito trabalho.

Se uma rapariga nos dissesse que durante o dia, porque tem muito que fazer, porque está muito ocupada, não tem tempo de pensar no namorado, nós rir-nos-íamos e achávamos que o amor dela era bem pequeno. Quando se ama não se pode deixar de pensar na pessoa amada.

Se uma mãe de família, porque tem muito trabalho, passasse o dia inteiro, ou toda a semana, sem pensar nos filhos e sem os ter presentes no coração, não diríamos que era aberrante tal atitude? O amor leva a pensar e a ter presente no coração a pessoa que se ama.

Quando nos morre uma pessoa que estimámos muito, a quem estávamos ligados por laços de grande amizade ou sobretudo por laços de sangue, durante muito tempo não nos sai da “mente” a sua pessoa, o tom da sua voz, etc., mesmo durante o nosso trabalho, as viagens para o emprego, no meio do barulho e agitação da vida.

Com certo género de oração deve ser o mesmo. Pensar em Deus durante o dia, elevar até Ele o coração, tê-Lo presente na amizade. Se não pensamos no Senhor é porque não O amamos, é porque Ele conta muito pouco na nossa vida, representa pouco na nossa existência quotidiana. Ao longo do dia, mesmo durante o trabalho, as viagens, etc., durante uns segundos, recolher-nos uns instantes, fechar os olhos por uns momentos e segredar-Lhe qualquer coisa no intimo do coração. É uma questão de hábito. É, sobretudo, um problema de amor.

Dário Pedroso sj